Pesquisar neste blog

sábado, 22 de outubro de 2011

Pérola aos porcos e pérola ao porco.

Pérola aos porcos e pérola ao porco

Uma energia baixa naquele ponto, na esquina de uma rua da Lapa moderninha, alternativa e reduto de todos os tipos de artistas, atores e palhaços. Os olhares não tinham brilho, as roupas coloridas não se sobrepunham aos tons de cinza que envolvia aquele lugar. Tinha uma pulsação diferente que urgia, gritava uma necessidade por algo, algo vida, algo cheio, algo amor, algo beijo, algo abraço, algo choro, exaustão; dor simulada no riso que surgia fácil, fácil demais.

Eu não vejo as coisas com um só layer, cada coisa que olho me olha e nesse cruzamento nós nos vemos em várias camadas. Somo um, mas não me identifico, gosto de não focar – para não pirar, quero ou pretendo me manter íntegra (inteira, integral, total) para entender alguma coisa mais. Já que estou nesse lugar deslocado de um ponto do universo e vejo tudo em paralelo –  e já que também estou deslocada ali, e meus olhos devem chamar atenção, pois a cada aproximação ouço de mais alguém que olha dentro do meu olhar e me diz que há algo de diferente, e de formas diferentes tentam definir. Eu sei o que é: eu não estava ali: ninguém deveria estar, mas todos estavam e isso os deixava vagando no vazio entre vazios. 

Zumbis de alma, emoções afloradas por dentro, cada lugar tem uma cor. Ali era o baixo gávea da lapa, era um pico de pessoas diferentes, isso não se expressava só na roupa, na construção dos “personagens – reais”,  mas provavelmente os menos construídos para fora eram os mais elaborados por dentro. De que forma? Não sei, só sei que muito desencontrada.

O final da noite terminou em dia e eu estava bem com a claridade, mesmo quando deslocada,  não identificada, misturando e protegendo ainda assim não pude evitar de ser sugada. Ou melhor: roubada (pelas mãos escorregadias daquele local).

Perdi a única coisa que importava ali. Não foi dinheiro, não foi um bem, não foi uma amizade....  Foi um brinco de pérola que eu trouxe de uma ilha linda do outro lado do mundo. O brinco carregava mais que seu valor tangível, material e formal; nele continha um momento especial, uma época em que vivi intensamente o que há de melhor na vida, a vida com cores, cheiros e sabores deliciosos. A pérola se foi ali naquela esquina miserável, provavelmente junto com as mazelas de alguém que chorava em meu ombro a perda de um amor – e que eu cedia um carinho de amizade e que em seguida tentava me beijar abruptamente –  me causando náuseas, traição! Como fui ingênua. Era um amigo de um alguém de um passado que me lembrava a Lapa, que me remetia o que eu repelia mas que em contradição inexplicável um dia eu já  amei, pois bem, pérolas ao porco antes e pérola aos porcos depois.

Nenhum comentário:

Postar um comentário