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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

excelente texto do Leonardo Boff

O cuidado do corpo contra o culto do corpo

10/12/2013
É enriquecedor entender a existência humana a partir da teoria da complexidade. Somos seres complexos, vale dizer, a convergência de um sem-número de fatores, materiais, biológicos, energéticos, espirituais, terrenais e cósmicos. Possuimos uma exterioridade com a qual nos fazemos presentes uns aos outros e pertencemos ao universo dos corpos. Temos uma interioridade, habitada por vigorosas energias positivas e negativas que formam nossa individualidade psíquica. Somos portadores da dimensão do profundo rondam as questões mais significativas do sentido de nossa passagem por este mundo. Estas dimensões convivem e intergem permanentemente uma influenciando a outra e moldam aquilo que chamamos o ser humano.
Tudo em nós tem que ser cuidado, caso contrário perdemos o equilíbrio das forças que nos constroem e nos desumanizamos. Ao abordar o tema do cuidado do corpor faz-se mister, antes de mais nada, opor-se conscientemente aos dualismos que a cultura persiste em manter: por um lado o “corpo”, desvinculado do espírito e por outro do “espírito” desmaterializado de seu corpo. E assim perdemos a unidade da vida humana.
A propaganda comercial explora esta dualidade, apresentando o corpo não como a totalidade exterior do humano mas sua parcialização, seus músculos, suas mãos, seus pés, seus olhos, enfim, suas partes. Principais vítimas desta retaliação são as mulheres, pois o machismo secular se refugiou no mundo mediático do marketing, expondo  partes da mulher, seus seios, seus cabelos, sua boca, seu sexo  e outras partes, continuando a fazer da mulher um “objeto de consumo” de homens machistas. Devemos nos opor firmemente a esta deformação cultural.
Importa tambem rejeitar o “culto do corpo” promovido pelo sem número de academias e outras formas de trabalho sobre a dimensão física como se o homem-corpo fosse uma máquina destituída de espírito, buscando performances musculares cada vez maiores. Com isso não queremos desmerecer os exercícios dos vários tipos de ginástica a serviço da saúde e de uma integração maior corpo-mente. Pensamos nas massagens que revigoram o corpo e fazem fluir as energias vitais, particularmente, as ginásticas orientais como o yoga que tanto favorece uma postura meditativa da vida. Ou no incentivo à uma alimentação equilibrada e sadia, incluíndo também o jejum seja como ascese voluntária seja como forma de equilibra as energias vitais.
O vestuário merece consideração especial. Ele não possui apenas uma função utilitária ao nos proteger das intempéries. Ele pertence ao cuidado do corpo, pois o vestuário representa uma linguagem, uma forma de revelar-se no teatro da vida. É importante cuidar  que o vestuário seja expressão de um modo de ser e mostre o perfil estético da pessoa. Especialmente significativo é na mulher pois ela possui um relação mais íntima com o próprio  corpo e sua aparência.
Nada mais ridículo e demonstração de anemia de espírito que as belezas construídas à base de botox e de plásticas desnecessárias. Sobre este embelezamento artificioso está montada toda uma indústria de cosméticos e práticas de emagrecimento em clínicas e SPAs que dificilmente servem a uma dimensão mais integradora do corpo. Entretanto não há que se invalidar as massagens e os cosméticos importantes para pele e para o justo enbelezamento das pessoas.
Mas cabe reconher que há uma beleza própria de cada idade, um charme que nasce da existência feita de luta e trabalho que deixaram marcas na expressão “corporal” do ser humano. Não há photoshop que substitua a beleza rude de um rosto de um trabalhador, talhado pela dureza da vida e com traços faciais moldados pelo sofrimento. A luta de tantas mulheres trabalhadoras, nas cidades,  no campo e nas fábricas  deixou em seus corpos um outro tipo de beleza, não raro,  com uma expressão de grande força e energia. Falam da vida real e não da artificial e construída. As fotos trabalhadas dos ícones da beleza convencional são quase todos moldados por tipos de beleza da moda e mal disfarçam a artificialidade da figura e a vaidade frívola que aí se revela.
Tais pessoas são vítimas de uma cultura que não cultiva o cuidado próprio de cada fase da vida, com sua beleza e irradiação, mas também com as marcas de uma vida vivida que deixou estampada no rosto e no corpo as lutas, os sofrimentos, as superações. Tais marcas criam uma beleza singular e uma irradiação específica, ao invés de engessar as pessoas num tipo de perfil de um passado irrecuperável.
Positivamente, cuidamos do corpo regressando à natureza  e à Terra das quais há séculos nos havíamos exilado, imbuídos de uma atitude de sinergia e de comunhão com todas as coisas. Isso significa estabelecer uma relação de biofilia, de amor e de sensibilização para com os animais, as flores, as plantas, os climas, as paisagens e para com a Terra. Quando esta é mostrada a partir do espaço exterior com essas belas imagens do globo terrestre transmitidas pelos grandes telescópios ou pelas naves espaciais, irrompe em nós um sentido de reverência, de respeito e de amor à nossa Grande Mãe de cujo útero todos viemos. Ela é pequena, cosmologicamente já envelhecida, mas irradiante.
Talvez o desafio maior para o homem-corpo consiste em lograr um equilíbrio entre a autoafirmação, sem cair na arrogância e no menosprezo dos outros e entre a integração no todo maior, da família, da comunidade, do grupo de trabalho e da sociedade, sem deixar-se massificar e cair no adesismo acrítico. A busca deste equilíbrio não se resolve uma vez por todas, mas deve ser assumido diuturnamente,  pois, ele nos é cobrado a cada momento. Há que se encontrar o balanço adequado entre as duas forças que nos podem dilacerar ou integrar.
O cuidado em nossa inserção no estar-no-mundo envolve nossa dieta: o que comemos e bebemos. Fazer do comer mais que um ato de nutrição, mas um rito de celebração e de comunhão com os outros comensais e com os frutos  da generosidade da Terra. Saber escolher os produtos orgânicos ou os menos quimicalizados. Daí resulta uma vida saudável que assume o princípio da precaução contra eventuais enfermidades que podem advir do ambiente degradado.
Destarte  o homem-corpo deixa transparecer sua harmonia interior e exterior, como membro da grande comunidade de vida.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Véspera de submissão de artigo

Tenho que falar bonito sobre o tema que escolhi. Minha vaidade, ego, perfeccionismo e insegurança emergem de tal forma que paralisada fico. Invento mil distrações, ora estou com fome, ora preciso vêr TV pois me sinto sem inspiração, ou necessito fazer minha sobrancelha, unha... E sinto muito sono! No meio da leitura aceleradora da mente (tática para depois escrever), não consigo completar meu plano pois já estou caindo de sono.
Rezo, medito, me irrito com qualquer coisa na internet e perco a paciência com os amigos que não precisam publicar um artigo.
Que coisa chata me preocupar com como lerão o que eu digo. Obvio, eu sou muito crítica quando leio os outros - principalmente iniciantes das ciências... Quão pretensiosa! Na hora de lêr é fácil criticar, na hora de escrever e pros outros, aí tudo complica de uma hora pra outra e as palavras que antes fluíam agora parecem engasgar e nada faz muito sentido, e nunca está bom o suficiente.
Faz mais de um ano que não escrevo nesse meu blog, que também não curto divulgar muito. Isso deve ser um bom sinal (de que além de ocupada, não estou mais "precisando" escrever), e toda vez que venho aqui me pergunto porque faço isso. Talvez seja para quando eu tiver lá pelos 70 queira reler tudo... Que tédio! Prefiro viagens e amores (mesmo que aos netos...).
No fim da noite olho para o que eu tinha para fazer, tanta coisa planejei e tudo continua intocado... O tempo voa de uma forma que só lembro que passou quando chega a fatura do cartão de crédito e eu vejo que vivi vários dias (vida para consumo? Hello Bauman!).
 Porque não tive tempo para acordar muito cedo, ir pedalar na orla do leblon à ipanema, beber uma água de coco, dar um mergulho e aproveitar meu plano na academia que oferece 10 mil opções de aulas para modelar meu corpo. A propósito, esse é meu tema. Estou na parte final onde falo do papel do designer como conciliador entre a modelagem do corpo e a modelagem do biquíni carioca. O ponto central dessa parte da pesquisa é que após eu falar sobre a dimensão simbólica do corpo feminino em um contexto de inovação tecnológica nas ciências (medicina estética, biomedicina, técnicas corporais etc), de um lado temos o corpo como uma peça de argila a ser esculpida pelo próprio dono, mestre e autor de sua modelagem, formas, curvas e cores - e de outro lado temos a indústria fornecendo novos suportes, novas técnicas e materiais para a execução da (re)modelagem corporal e também o acompanhamento desse corpo modelado através da moda. Na indústria de moda praia o designer busca conciliar a modelagem do biquíni, dos suportes, das matérias primas e tecnologias inovadoras com as demandas que segmentos do mercado consumidor de biquíni buscam.
O papel do designer é interdisciplinar, ele faz seu projeto dialogar com variadas dimensões para desenvolver um produto completo, ou seja, o projeto não se limita a escolha de estampas, conceito, cores e modelagens, ele como "um todo" faz pontes com o que se observa de comportamento social, anseios de novas demandas, de segmentos de consumidores mais fragmentados ou diversificados, onde para cada corpo haverá um lugar, ambiente, história, grupo social e discurso.
As mídias digitais e a liquidez das redes sociais tornam os processos de subjetivação mais dinâmicos, as trocas simbólicas são mais fruídas. Corpos são mostrados, exibidos para amigos, amigos de amigos ou qualquer pessoa. Corpos que ostentam códigos de regulação, comunicam o gosto, a tendência de moda, a criatividade de quem produz e é dono do corpo da imagem que divulga: detalhe do acessório, a forma de amarrar o lacinho, o tamanho da roupa, do biquíni, da prótese de silicone, tudo faz relação com a linguagem,  com o que rodeia o coletivo e se torna vigente: na moda, no gesto e no discurso.
As marcas de moda praia que antes criavam suas coleções em conjunto com as estratégias de entrada de mercado, publicidade e branding, vão se adaptando às novas formas de comunicar que vão surgindo na era digital e das redes socias, por exemplo.
Cabe ao designer de moda praia, ou demais profissionais ligados à execução da coleção da marca, o mergulho na dimensão simbólica desse corpo que consome e vive a cultura de praia. Nossa conclusão é que o  profissional que não faz parte ou pelo menos estuda esse repertório (imagético, dos discursos, dos usos de produtos ligados à cultura de praia, das tribos urbanas e dos costumes da usuária de biquíni), ele até pode se utilizar ou copiar o que é feito ou replicar o que já conhece, mas ficará atrás na corrida das marcas e posicionamento de mercado - podendo chegar ao status de obsolescente, o que favorece muito a perda de fôlego nos negócios - até falência da marca/ empresa.
O papel do designer de moda praia em tempos de mudanças rápidas como a democratização de estilos e o paradoxo da ditadura da beleza em relação aos corpo talvez seja entender os tantos fatores que tornam a moda praia diversificada e contribuem para o surgimento de novas demandas.

Enfim, falei, falei, ficou caído, mas no final tudo dá certo. Daqui vomitei um pouco, depois sei que vou digerir melhor e na pressão da última hora ficará excelente! (a esperança é a última...)

#vidademestranda