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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Texto da Flávia Camargo, muito interessante, do livro da própria (Diferenças em comum)


"Não preciso ficar com raiva do fato de a pessoa
que está criticando os meus defeitos ter defeitos também.
Infelizmente, quando recebo uma crítica de alguém,
ao invés de avaliar se eu realmente tenho aquela deficiência
que me apontaram, tenho o hábito de ficar pensando
se a pessoa que me criticou é isenta de máculas.
Mas cheguei à conclusão de que esse comportamento
não está correto, pois as falhas alheias
não são justificativas para que as minhas existam.
O problema é que é muito difícil dar razão a alguém
que também nos incomoda com as suas imperfeições,
e assim não temos vontade de nos corrigirmos,
atendendo ao pedido dela, se achamos
que ela também deve se corrigir.
Deixando-me levar por esse pensamento negativo,
eu dizia para mim mesmo que, enquanto a outra pessoa
não se corrigisse, eu também não iria me esforçar para ser melhor.
Apesar de ser a tendência da minha mente colocar como condição
para a minha melhora que o outro melhore primeiro,
pensar assim não é a solução.
A avaliação que faço de mim mesmo não deve depender
da comparação dos meus atributos com os de outra pessoa.
Então, mesmo que quem me critique possua vários defeitos,
devo dar atenção à sua crítica, caso o erro que ele me apontou
seja verdadeiro, pois o benefício do esforço em me superar
será meu  e então devo fazer isso para o meu próprio bem.
Se eu não estava conseguindo enxergar a necessidade
de corrigir minhas falhas, é porque o amor-próprio
estava fazendo a minha personalidade reagir.
E definitivamente esse não é um motivo
justificável para a minha inércia.
Se a outra pessoa precisa melhorar em algum aspecto,
eu devo ser paciente, bem como devo me esforçar
para ajudá-la a mudar com o auxílio da minha compreensão.
E se eu preciso melhorar em outro aspecto,
devo fazê-lo imediatamente, a partir do momento
que constate o bem que isso irá me trazer.
Uma coisa é independente da outra.
Não importa se por acaso eu vou melhorar antes do outro.
O importante é que os dois estejam buscando a superação juntos."

Flavia Camargo (Diferenças em Comum)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Suscetibilidade: um mal que poucos conseguem perceber

foto: Janara Morenna.: (em búzios, casa do lago)

"Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, Depende de quando e como você me vê passar..." Clarice Lispector


DEFICIÊNCIA: SUSCETIBILIDADE


ANTIDEFICIÊNCIA: EQUANIMIDADE


AUTOR: Pecoche



Quando esta deficiência se circunscreve às formas benignas de sua manifestação não implica, logicamente, gravidade para quem dela padece, porém quando a epiderme psicológica do suscetível se mantém em constante ouriçamento, eis aí um claro indício de que a falha chegou a seu apogeu, com os conseguintes prejuízos para o ser, que sofre já com intensidade sua influência trastornadora, e experimenta com amargura que seu trato consigo mesmo e com seus semelhantes se faz cada vez mais difícil.

O susceptível é um sujeito predisposto a ver no próximo uma segunda intenção, o que faz que se pique ou ofenda com extrema facilidade. Sua imaginación desfigura palavras e atitudes e, de acordo com isto, se mortifica e atormenta. Com frequência crê ver no semelhante o propósito de desmerecê-lo, ou se ressente pela mais leve desatenção, e não há gesto, palavra ou atitude de quem teve ocasionalmente alguma diferença com ele, que sejam justamente interpretados.

Próprio da tenacidade de seu defeito é não deixar-se convencer de que cometeu erros; nem mesmo a reflexão mais serena e honesta logra nada em tal sentido. Em tão deplorável estado mental, fruto da perturbação que sofre seu entendimento, tudo o incomoda, pois não há coisa que se enquadre na rigidez de seu pensamento, ou esteja de acordo com seu juízo, projetos, desejos ou ambições. Nem a perda de amizades nem o distanciamento dos que tiveram de tolerá-lo até a culminação de seus excessos alcançam às vezes a convencê-lo de seu erro.

Também é fato certo que o suscetível, em razão de seus desacertos, aumenta de contínuo seus receios ou os motivos que o ofendem, pois supõe que sua conduta promove comentários adversos, desconformidade, desagrado, e isto mesmo influi para que se sinta afetado por qualquer alusão que lhe pareça suspeita.

A susceptibilidade acompanha geralmente as pessoas incapazes de se colocar com modéstia nos cargos ou posições que ocupam, onde esperam sempre um reconhecimento amplo de seus valores, reais ou efêmeros, por parte dos demais.

Esta deficiência fomenta em alguns casos o recurso de adular, coisa que o ser faz com o intuito de obrigar a reciprocidade no trato. O suscetível busca a adulação como o toxicômano busca o alcalóide; daí que quando esta não se manifiesta, ele se ressinta, evidenciando amiúde grande falta de discrição e tato.

Deixaremos ao leitor a tarefa de enumerar as múltiplas deficiências que se associam a esta falha posicológica e contribuem para acentuar sua ação negativa.

Quando o que adoece deste mal psicológico decide se dedicar à tarefa de realizar o proceso de evolución consciente, comprova que a negatividade de sua deficiência cobra especial significação, porque ela entorpece de constante a louvável decisão de encaminhar a vida pelo limpo caminho do aperfeiçoamento, ao lhe criar situações que não condizem com a integridade que se deve manifestar nele. A repetição de tais perturbações comove permanentemente seu campo mental, ao chocar-se com os demais por causa das circunstâncias promovidas por seu mesmo temperamento rabugento.

A ecuanimidad (equanimidade) é o sentido da justiça, e, por sua vez, a medida exata com que se justapreciam os valores opostos. Ela mantém o homem a cuberto das atitudes extemporâneas da suscetibilidade, que surgem impulsionadas pelas ligeirezas do juízo. A afabilidade é o mel que, derramado sobre o vinagre psicológico, melhora seu sabor.
Ela tem seus berços nas excelências da alma, enquanto a suscetibilidade se gera nos domínios do instinto.

Quem quiser experimentar esta notável transição anímica e temperamental, deve seguir a indicação exposta, o que lhe permitirá superar uma das deficiências mais detestáveis e penosas.

O benefício que se obtém com o câmbio é de dimensões insuspeitadas. Sua realidade se encarregará de adverti-lo e fazer com que se disfrute desta mudança plenamente.