Havia uma discussão na
mesa. Eram mulheres cultas e havia um gay, culto também. Ah, também tinha um
homem, desses sensíveis....
A discussão foi parar no
sentido do amor, da família e por fim nas questões sobre ter ou não ter filhos e
suas implicações nos dias de hoje. Eram todas "maduras", umas não
tinham mais essa opção, escolher ou não, simplesmente escolheram em um passado
próximo, e então falavam, justificavam e ilustravam os seus valores e como se
sentiam hoje. Outras ainda poderiam escolher, mas seria já fazendo parte de um
grupo diferenciado, a gravidez tardia. Acho que somente uma das moças estava na
fase em que as mulheres mais engravidam. A fase onde a sociedade ainda
não sabe o que ela pretende, geralmente as novas balsacas são aquelas que ficam
sob observação da família e dos próximos, parece que paira no ar uma
expectativa: será que vai ou fica? Sobretudo se a moça for solteira e sem
planos ou romances à vista...
O amor é algo esquisito
demais. Na juventude ele é lírico, romântico, poesia que se escreve com letras
em estilo barroco, com formas orgânicas. Ele tem cheiro de flor e incenso, ele
brilha como uma vela na janela, reflete uma luz como a da lua na escuridão. O
amor inocente é lindo, é puro e sacana, mas esse sacana é leve, diferente do
amor maduro.
Depois de muitos amores
puros, leves, sacanas, românticos e fantasiosos... A gente fica cansada, chega
um momento em que se não nos prendemos ao que é considerado "sério",
ficamos à margem, e daí surgem tantos outros interesses
"fundamentais" que a dificuldade em sair dessa zona de conforto do
"eu com eu", se torna um desafio.
Me vi ali, diante de
olhares do mundo, mulheres que preferiram ser elas por elas, sem filhos, sem
romances formalizados... Elas casaram com suas profissões, acho que seus ideais
eram os da liberdade absoluta, da independência de serem donas do próprio tempo
e nariz.
Mas, não sei, minha razão
achava aquilo tudo maravilhoso, eu mesma já pensei assim tantas vezes, ainda
mais descobrindo tantos caminhos que sozinha ficam mais próximos, ainda mais
assistindo a enunciação de um mundo cada vez mais e mais injusto, duro, árduo
de se viver e conseguir um lugar ao sol... Essa era a voz objetiva, lógica...
Mas sou um ser antagônico, e para não perder a crítica, me vi vendo, ou melhor,
sentindo um outro lado que falava
baixinho e tímido - mas me direcionava a atenção: dizia-me que não preciso ir
na mesma direção, que poderia haver outras saídas, outras formas de ter o amor
da família, a tradição de uma forma moderna,
ou melhor dizendo, funcional aos tempos de hoje. "Funcional" é muito
racional! Então, pensei no amor do homem e da mulher, acho que estou divagando...
O amor existe hoje? De hoje até quando? O amor é circunstancial e muda com
nossas mudanças, visões de mundo, valores? Ou é algo metafísico, espiritual?
Existiria um amor capaz de fazer com que não desejemos sair de uma relação no
meio dela e experimentar outros gostos, toques, momentos e mundos? Soa tão
entediante esse amor eterno... Mas ao mesmo tempo ele é tão desejado! Tão
buscado... Será por ser esse amor, um tipo imaginado, um mito, e por isso mesmo
é que nós tentamos buscá-lo? Por ser algo inalcançável, platônico, virtual?
Mais uma vez me acho pouco prática e me deparo com outra questão
existencialista, e o que afinal é real?
Janara
Morenna, 17:55, Rio, 30 de abril de 2012.
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