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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Valores

O mundo mudou. Essa frase não é minha nem de ninguém, talvez seja um pouco de todos; mas talvez nem todos tenham tomado consciência disso. Mas o mundo sempre muda, não é?
A questão é que acho que esses novos tempos estão causando muita confusão, não sei se mais na minha geração (sou de 82). Sinto como se estivéssemos atravessando uma crise de valores, por um lado busca-se ajustar alguns conceitos para dar conta das mudanças que emergem constantemente, por outro lado vejo fugas - muitos não querem pensar sobre essas questões. 
Ao conversar com pessoas das mais diversas idades, sinto como se houvesse uma interrogação estampada na testa de cada um. Mas que crise seria essa? Seria reflexo da globalização? Ou o caminho natural da emergência de uma sociedade voltada para o capital, imagem e consumo?
Vejo um esforço no sentido de colher referências por parte dos mais engajados, pegam emprestado conceitos clássicos que fundamentaram a filosofia, a moral, a ética e o sentido de sociedade e democracia. Vejo também contradições, visões pessimistas com relação às buscas individuais: a felicidade. Esse termo, aliás, é de difícil explicação e compreende diversas interpretações. 
Parece que vivemos em busca de receitas para chegar à plenitude da vida, a tal felicidade parece sempre estar a um passo, parece fugaz, parece inalcançável ou se alcançada tem curta duração. Vejo que em mim a felicidade está relacionada às conquistas: uma meta alcançada, a sensação de dever cumprido, a realização de um desejo, a descoberta de algum conhecimento novo, a novidade... Mas não é só isso, felicidade tem a ver com compartilhar felicidade. De que adianta senti-la sozinha? A felicidade tem que ser recordada, quão ingratos somos ao esquecer os momentos altos e dimensionar os baixos? Somos egoístas conosco mesmos quando não fazemos esse esforço de relembrar esses momentos de plenitude e satisfação.
Penso nas pessoas que conheço que possuem tudo que o sistema impõe como necessário para “ser feliz”: são bonitas, bem sucedidas profissionalmente, vão pra academia, saem pra jantar em lugares badalados, vão a festas da moda, possuem uma quantidade enorme de conhecidos ou amigos e fazem tudo aquilo que a maioria deseja, um life style como manda o figurino. Não sou marxista, minha crítica não vai de encontro a nenhum tipo de fórmula ou de status social. Questiono é se esses movimentos funcionam, se são genuínos, se traduzem o que a essência de cada um busca de fato, se trazem algo que complemente o ser em seu íntimo. São felizes de fato? Ou parecem felizes? E talvez por acharem que são felizes, não o serão de fato?
Minha impressão é que esse tipo de busca – a do exterior, da imagem e dos prazeres fugazes trazem um vício... O de quero mais e mais, não há saciedade, a felicidade é sempre momentânea, por isso, deve ser mantida por doses cada vez maiores, mais paixões arrematadoras, mais “ópio”, mais diversão, leia-se distração, mais fantasia, mais consumo de bens, consumo de pessoas, consumo de alimentos, consumo de life styles, intervenções estéticas, plásticas, discursos da moda, de nada, de vazio, de superficial.
Daí me dizem: “gatinha, você pensa demais gatinha...”
Devo parar de pensar então? Quem sabe assim não cedo ao espetáculo de cegos e minha felicidade passa a variar de acordo com a tendência do último desfile da Dior?
Não. Prefiro guardar os momentos de êxtase que na memória me enchem de ternura. O afeto do pai, a meditação na praia que adoro, a música que amo dançar, a dança, pintar, andar de bicicleta, estar entre amigos verdadeiros, a reciprocidade de um sentimento, ser personagem principal da minha vida.
Vamos cultivar esses valores que para nós são importantes não importa como o mundo nos veja e nem se vão nos achar burros, idealistas ou reflexivos demais.
Sejamos felizes com o que preenche nossa eternidade enquanto vivemos.

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