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quinta-feira, 22 de julho de 2010

A vizinha podada


Uma linda e grande árvore me presenteava aqui na janela do quarto onde costumo reverenciar o sol nas tardes em que ele se põe feliz de completar mais um ciclo.

A paisagem do céu riscado em tons avermelhados e raios brilhantes quando o astro se despede na montanha é embelezada pelo canto dos diversos pássaros pequenos, grandes, vermelhos e azuis que cantam em harmonia com borboletas silenciosas que majestosamente dançam um balé genial e pousam nas folhagens verdes, terra e vermelhas deste outono de céus nítidos e clima agradável.
Nos galhos que ano após ano se multiplicam, o volume das folhas chegava cada vez mais perto da janela.
Todos os dias nesse ritual feliz eu me colocava a contemplar a presença cada vez mais próxima da família ao lado, esperava cada dia poder ter por perto o canto e a dança dos pequenos que habitam a imensa mãe árvore.
Estava tão próximo o dia em que eu poderia enfim encostar minhas mãos na singela provedora do meu espetáculo diário.
Foi numa tarde deste outono que fui arrebatada pela impressão do vazio, em um susto choquei-me com a paisagem prostrada, estática e irreparável.
Fui arrebatada pela tristeza e pela dor da perda, tão próximo de mim me foi tirado o sabor da expectativa.  A árvore estava cortada. Segurei o grito, a revolta foi calada pela sabedoria que a reflexão trouxe e enfim resolvi indagar sobre tal ato, haveria razão para o crime? 
Como resposta ouvi dos homens do machado que eles o fizeram para salvar a pobre árvore, fadada à morte  pelas ervas daninhas que junto às folhagens e pássaros cresceram como um câncer.
Um momento de lucidez se fez em mim e meu corpo vibrou em uma sintonia mais agradável, de novo a esperança e o alívio de constatar o quão o desapego ali traria a renovação e vida. Da morte para o renascimento.
Nos dias que se sucederam apareceram novos músicos voadores e as borboletas voltaram.
Minha vizinha não está tão perto, mas está mais forte, revigorada e continuará proporcionando os espetáculos diários a todos que nela se aconchegam.
Janara Morenna.:

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