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segunda-feira, 7 de setembro de 2009




Refletir quer dizer, ao mesmo tempo: a) pesar, repesar, deixar descansar, imaginar sob diversos aspectos o problema, a idéia; b) olhar o seu próprio olhar olhando, refletir-se a si mesmo na reflexão. É preciso alimentar o conhecimento com a reflexão; é preciso alimentar a reflexão com o conhecimento. - EDGAR MORIN.
Episteme Íntima
Após meu grupo de estudos sobre o pensamento complexo fui direto para minha habitual tertúlia cujo tema Logosófico muito se assemelhava aos fundamentos da complexidade.
No caminho para casa encontrei uns amigos músicos. Falavam de coisas interessantes e logo caímos em temas que nortearam meu dia de estudos, o que me fez refletir sobre o pensamento como “entidade autônoma que passa de uma mente para outra” (Pecoche). No dia seguinte de manhã fui para a Pós-Graduação e o professor de sociologia se apresentou, falou, falou e em seu discurso vi mais fragmentos de tudo que eu havia absorvido naquelas horas anteriores (ele até citou Morin!)
Esses “coincifatos” pretendo partilhar aqui. Quero ser breve mas dada a complexidade do tema, então sem redução .
Sobre a comunicação
A comunicação é falha. Sim claro, nosso universo interior se difere dos demais, (embora existam as afinidades). Criação, cultura, língua, forma de expressar, perfil psicológico etc são alguns dos fatores que sustentam meu argumento. O que é um fato para nós pode ser incompreensível para o outro. Tendemos a julgar nós mesmos pelas nossas intenções passando por cima dos resultados de nossos atos – fato este que nos leva a ser auto- tolerantes. Por outro lado costumamos julgar o outro não pelas suas intenções, (que nem sempre sabemos) mas pela sua conduta. Aqui nem sempre somos tolerantes.
Ocorre que por uma ordem natural e lei de correspondência estamos suscetíveis a pisar em ovos, gerar cautela e desconfianças, não ficamos à vontade para conversar de forma espontânea sobre nossas intenções.
Se avalio o outro pelo seu comportamento, é claro que ele me julgará do mesmo modo.
O resultado dessa falta de liberdade interna e do pensar limita nossas percepções e reforça a desconfiança, aumenta o nível de cobranças e dificulta a tolerância. Passamos a reagir ao invés de interagir.
Esse padrão talvez seja modificado se soubermos lidar com essa dificuldade instituída culturalmente onde falar com liberdade e sinceridade teria que ser o ponto de partida para uma nova ética cujo objetivo seja o da troca de intenções e não dos meios de ocultá-las (inclusive para a troca do negativo ou crítica construtiva).
Saber perguntar
Se nós percebemos o mundo segundo uma lógica estrutural interna, saber comunicar significa perguntar. Na nossa cultura ocidental o diálogo se torna uma competição comumente (quem fala melhor, argumenta, envolve e assim por diante). Geralmente achamos que formulamos bem uma questão quando deixamos o outro “vazio”, isto é, quando o outro embaraçado e acuado, não consegue raciocinar com clareza ficando em dificuldade para rebater. Sentimos-nos vitoriosos quando conseguimos o que significa um triunfo no contexto citado.
A ordem das coisas aqui está toda errada. Não usamos a linguagem para aprender ou trocar e sim para “vencer” um debate. Indo um pouco além, diria que saber fazer perguntas é também saber o que levará a aprender algo e modificar. Nesse sentido saber questionar é saber receber algo de quem se pergunta e dar oportunidade de transformar sua estrutura. Por uma questão lógica saber ensinar é saber propor questões mobilizadoras que produzem expectativa diante da resposta , é por isso que saber questionar remete a saber ouvir, pois não há indagações adequadas sem a expectativa e preparação de receber o retorno.
Se nós somos parte de um todo, somos o mundo. Quando fazemos uma pergunta o mundo do receptor se abre (não para desafiá-lo) para proporcionar a oportunidade de mudanças. Assim, conversar com o outro significa que o mundo esta conversando consigo próprio por nosso intermédio. Portanto, estar-com, econtrar-se, religar-se são sinônimos de conversar.
A linguagem proporciona modificações internas, é sabido que muitas dimensões de nossas interações são em níveis inconscientes. Para trazer esses níveis a superfície, a conversação é indispensável e trazer implica poder avaliar e analisar proporcionando escolhas: o principal, pois coordena e organiza nosso comportamento que ao ser relatado contribui para as modificações.
Sobre o amor
Se o inferno são os outros, a felicidade também o é, logo; se não existe inferno sem os outros, também não há felicidade sem eles. Já nascemos sabendo amar, os animais são a prova disso. Apesar de sermos educados nesse sentido, ao crescer somos obrigados a enfrentar uma cultura oposta a tudo isso. Desaprendemos o que é amar com as racionalizações, ideologias e o conformismo individualista, cuja estratégia é transformar o amor em algo inalcançável, raro e por isso muito valorizado numa visão mercadológica. Dizem os sociólogos que as relações hoje em dia não vão para frente por força do mercado que lucra com separações, afirmam que o indivíduo que doa amor e não recebe de forma recíproca tende a voltar a doação desse amor (atenção, carinho cuidado energia...) para si próprio. Isso estimula o consumo de bens, produtos e serviços, pois tal ser começa a ficar mais vaidoso e festivo e acelerar os gastos suprindo o vazio e buscando se sentir mais seguro e poderoso para as futuras investidas na busca pelo amor (sentimento este que o homem não vive sem). Concordo com esses sociólogos e acrescento; se buscamos no outro fragmentos de nós mesmos e do mundo, se por meio do outro é possível ampliar e transcender as limitações de nós mesmo e da solidão existencial, afirmar que o amor é uma dimensão biológica, psico ou neuroquímica é uma redução.
Em tempo: Pelo menos consegui terminar o texto com a (palavra) redução.
Janara Morenna - Rio, 07/09/09.

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