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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Espírito 2011


O relógio contou 365 dias roubando, só pode... A sensação foi de um ano record, quando vimos já era carnaval e sem seguida meio do ano, inverno, pressão de fim de ano e acabou. Pelo menos dizem que esse foi intenso, mais voltado para o conhecimento, seja ele interno: do encontro consigo mesmo, ou do externo: do trabalho e dos estudos.




Em plena crise de valores, de todos os lados vemos temas como a ética, a moral ou a espiritualidade serem retomados, debatidos e até revistos. Parece haver uma esperança de melhorar o mundo adequando princípios clássicos de conduta aos novos tempos.




O indivíduo nunca esteve tão em foco, as classes que não tinham acesso a bens de consumo agora usam e abusam do seu conquistado crédito, do seu sonhado “poder de compra” e assim crêem afirmar suas singularidades, ideal este disseminado pela cultura de massa, onde até o ocidente e oriente se misturam.
No mar do “ter” para “ser” a felicidade se encontra nas sacolas de compras, num shopping Center e se completa nos álbuns do facebook , pois só tem graça “ser” se puder mostrar, ou no verbo atual, compartilhar e curtir.



Na outra ponta há um movimento que marca a negação da caminhada pelo efêmero, sempre há o outro pólo, justamente para equilibrar, o fetiche de consumo dessa ordem é o paradoxal “novo luxo” baseado no princípio de uma vida a partir da simplicidade, da busca do ser para ter – e não o contrário, da valorização do auto conhecimento, de buscar amadurecimento, de fazer o bem, do culto pelo que é natural no lugar do artificial, do ócio criativo, de estar entre amigos, pelas causas ecológicas, de ter de novo um ideal. 



Pouco a pouco saímos de um extremo baseado no exagero, na ostentação e na profusão de formas, cores e marcas (brand) e como em todas as épocas anteriores depois do over vem o minimalismo, sentimos vontade de “limpar”, clarear, tornar leve. A moda é um exemplo disso. Vimos a volta dos anos 80´ em 2009 - 2010, mas já em 2011 os ditos formadores de opinião (pesquisa baseada em publicações de mídia segmentada), parecem querer se livrar de toda tralha e flutuar em nuvens de seda cor de rosa chá.


Paralelo à velocidade em que o mundo gira, na janela virtual emergem frases impactantes, filosóficas e reflexões em tom moralista, que mesmo parecendo hipócritas, tais discursos têm lá sua função. Meu palpite é que tal advento seja o indício dessa busca desesperada por segurança. O resgate do que é eterno traz isso, a sensação de conforto e confiança no futuro.





sábado, 4 de dezembro de 2010

Mulher de Verdade


Quantas mentiras nos contaram; foram tantas, que a gente bem cedo começa a acreditar e, ainda por cima, a se achar culpada por ser burra, incompetente e sem condições de fazer da vida uma sucessão de vitórias e felicidades.

...Uma das mentiras:
É a que nós, mulheres, podemos conciliar perfeitamente as funções de mãe, esposa, companheira e amante, e ainda por cima ter uma carreira profissional brilhante..
É muito simples: não podemos...

Não podemos, quando você se dedica de corpo e alma a seu filho recém-nascido que na hora certa de mamar dorme e que à noite, quando devia estar dormindo, chora com fome. Não consegue estar bem sexy quando o marido chega, para cumprir um dos papéis considerados obrigatórios na trajetória de uma mulher moderna: a de amante
Aliás, nem a de companheira; quem vai conseguir trocar uma idéia sobre a poluição da Baía de Guanabara se saiu do trabalho e passou no supermercado rapidinho para comprar uma massa e um molho já pronto para resolver o jantar, e ainda por cima está deprimida porque não teve tempo de fazer uma escova?

Mas as revistas femininas estão aí, querendo convencer as mulheres - e os maridos - de que um peixinho com ervas no forno com uma batatinha cozida al dente, acompanhado por uma salada e um vinhozinho branco é facílimo de fazer - sem esquecer as flores e as velas acesas, claro, e com isso o casamento continuar tendo aquele toque de glamour fun-da-men-tal para que dure por muitos e muitos anos.

Ah, quanta mentira!

Outra grande, diz respeito à mulher que trabalha; não à que faz de conta que trabalha, mas à que trabalha mesmo. No começo, ela até tenta se vestir no capricho, usar sapato de salto e estar sempre maquiada; mas cedo se vão as ilusões. Entre em qualquer local de trabalho pelas 4 da tarde e vai ver um bando de mulheres maltratadas, com o cabelo horrendo, a cara lavada, e sem um pingo do glamour - aquele - das executivas da Madison.

Dizem que o trabalho enobrece, o que pode até ser verdade. Mas ele também envelhece, destrói e enruga a pele, e quando se percebe a guerra já está perdida.

Não adianta: uma mulher glamourosa e pronta a fazer todos os charmes - aqueles que enlouquecem os homens - precisa, fundamentalmente, de duas coisas: tempo e dinheiro.
Tempo para hidratar os cabelos, lembrar de tomar seus 37 radicais livres, tempo para ir à hidroginástica, para ter uma massagista tailandesa e um acupunturista que a relaxe; tempo para fazer musculação, alongamento, comprar uma sandália nova para o verão, fazer as unhas, depilação; e dinheiro para tudo isso e ainda para pagar uma excelente empregada - o que também custa dinheiro.

É muito interessante a imagem da mulher que depois do expediente vai ao toalete - um toalete cuja luz é insuportavelmente branca e fria, retoca a maquiagem, coloca os brincos, põe a meia preta que está na bolsa desde de manhã e vai, alegremente, para uma happy hour.

Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus elevadores e de seus banheiros por lâmpadas âmbar, os índices de produtividade iriam ao infinito; não há auto-estima feminina que resista quando elas se olham nos espelhos desses recintos.

Felizes são as mulheres que têm cinco minutos - só cinco - para decidir a roupa que vão usar no trabalho; na luta contra o relógio o uniforme termina sendo preto ou bege, para que tudo combine sem que um só minuto seja perdido.

Mas tem as outras, com filhos já crescidos: essas, quando chegam em casa, têm que conversar com as crianças, perguntar como foi o dia na escola, procurar entender por que elas estão agressivas, por que o rendimento escolar está baixo.

E ainda tem as outras que, com ou sem filhos, ainda têm um namorado que apronta, e sem o qual elas acham que não conseguem viver.
Segundo um conhecedor da alma humana, só existem três coisas sem as quais não se pode viver: ar, água e pão.

Convenhamos que é difícil ser uma mulher de verdade; impossível, eu diria. Parabéns para quem consegue fingir tudo isso....



Danuza Leão - (Itaguaçu, 26 de julho de 1933) é uma jornalista e escritora brasileira. Irmã da cantora Nara Leão, foi casada com o jornalista Samuel Wainer, fundador do extinto jornal Última Hora. É autora de livros como Na sala com Danuza, As aparências enganam e Quase Tudo. Atualmente é colunista do jornal Folha de São Paulo. Nos anos 1950 foi modelo profissional. Em 1992 obteve um grande êxito editorial com Na Sala com Danuza. Em 2006 lançou sua autobiografia Quase Tudo.É mãe da artista plástica Pinky Wainer, do falecido jornalista Samuel Wainer Filho e de Bruno Wainer, empresário do ramo de distribuição cinematográfica, e avó do ator Gabriel Wainer.