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sábado, 4 de julho de 2015

Texto para ler com calma (Nove consciências - Budismo de Nitiren)


Nove consciências

1) O que são as nove consciências?

O budismo identifica nove tipos de funções espirituais de percepção, denominadas nove consciências. Os cinco primeiros tipos são percepções sensoriais obtidas diretamente pelos cinco órgãos dos sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. Da sexta à nona consciência estão as funções perceptivas da mente. A sexta consciência é o poder que integra os cincos sentidos e faz um julgamento de forma inclusiva. Por exemplo, diante de um objeto bonito, mas de péssimo odor, temos a tendência de rejeitá-lo imediatamente. A sétima, denominada manas em sâncrito, representa o poder do pensamento. Em vez de criar um julgamento sobre o que foi percebido pelos cinco sentidos, nessa consciência procuramos encontrar uma certa ordem à luz das experiências vividas e das circunstâncias externas. Em outras palavras, é nessa consciência que existe a manifestação da razão, que é característica apenas dos seres humanos. Como resultado dessa consciência, manifestam-se os valores, conceitos e princípios que herdamos de outras pessoas, como nossos ancestrais, e o que aprendemos no dia-a-dia ou desenvolvemos pela busca de conhecimentos. Assim, por meio dessa consciência, manifesta-se a característica do ego, da discriminação, do auto-apego etc.

A oitava consciência é chamada de alaya, em sâncrito, e corresponder ao que a psicologia moderna denomina de inconsciente. Na consciência alaya, que significa repositório em sânscrito, acumulam-se todas as experiências vividas na forma de ações, pensamentos e palavras, do passado ao presente, ou seja, o carma. Dessa forma, mesmo que uma pessoa não se lembre do que fez em um passado próximo ou distante, tudo fica registrado nessa consciência e, de acordo com a lei da causalidade, não pode escapar da manifestação dos efeitos de todas as causas acumuladas.

Por fim, a nona consciência, denominada amala em sânscrito, significa imaculada. Ela encontra-se na parte mais profunda da vida humana, livre das impurezas que o indivíduo possa trazer como resultado de suas ações passadas e acumuladas na oitava consciência. Nichiren Daishonin elucida essa nona consciência como sendo o próprio estado de Buda, que se estende eternamente do infinito passado ao infinito futuro na vida de todas as pessoas.

2) De forma prática, como se manifestam as nove consciências no dia-a-dia?

Vejamos uma situação onde há um problema de relacionamento entre duas pessoas. Via de regra, nesse tipo de situação, cada uma das envolvidas analisa os fatos de acordo com sua conveniência e razão, convencendo-se plenamente de que a outra está errada. Assim, reage negativamente, com desrespeito, ofensa, agressão etc. Essas atitudes, muitas vezes, são decorrentes apenas de um julgamento ao nível da sexta consciência, isto é, a pessoa cria uma antipatia meramente pelo o que os seus cinco sentidos tenham captado, antes de uma análise racional no âmbito da sétima consciência. Porém, na maioria das vezes, um julgamento racional baseado em acontecimentos anteriores, isto é, a sétima consciência, acaba criando uma reação negativa. Em qualquer desses casos, as correspondentes ações, palavras e pensamentos resultantes acumulam-se na oitava consciência, na forma de carma negativo. E, dessa forma, cria-se um ciclo vicioso e negativo, alimentando cada vez mais causas negativas. Contudo, o que o budismo ensina é que no âmbito mais profundo de nossa vida se encontra a consciência amala, imaculada e límpida. Se analisarmos o problema com base nela, poderemos então mudar nosso comportamento, tendo uma conduta mais compreensiva, tolerante e até mesmo de gratidão com as pessoas.

3) Como adquirir forças para manifestar essa compreensão em meio às duras circunstâncias diárias?

Foi justamente para isso que o Buda Original revelou a Lei fundamental da vida, o Nam-myoho-rengue-kyo. Com a sincera recitação do Daimoku, pode-se manifestar coragem e convicção, que proporciona o desenvolvimento do estado de Buda. Assim, desenvolve-se a capacidade e sabedoria para conduzir a vida de forma segura, equilibrada e correta. Na escritura “Resposta à Dama Nitinyo”, Nichiren Daishonin afirma: “Nunca procure o Gohonzon em outros lugares. Ele somente pode habitar o coração das pessoas comuns como nós, que abraçamos o Sutra de Lótus e recitamos o Nam-myoho-rengue-kyo. O corpo é o palácio da nona consciência, a entidade que fundamentalmente reina sobre todas as funções espirituais do homem.” (As Escrituras de Nichiren Daishonin, vol. 1, pág. 325.)

4) Há uma relação entre as nove consciências e os dez estados de vida?

Como citado no início, as nove consciências são funções espirituais de percepção. Nesse sentido, quanto mais se eleva o estado de vida, mais se aprofunda a correta percepção e compreensão dos fenômenos da vida. Assim, uma pessoa que vive no ciclo dos seis estados inferiores — Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranqüilidade e Alegria — tem a característica de percepção da vida conforme as seis primeiras consciências. Já os estados de Erudição e Absorção, isto é, os dois veículos, estão relacionados com as percepções da sétima consciência. O estado de Bodhisattva caracteriza-se pela elevada capacidade do ser humano de perceber a vida pela oitava consciência. Por fim, o estado de Buda é a própria nona consciência conforme descreveu o Buda Original Nichiren Daishonin.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Paradoxo gênero e controle

Estava lendo um texto da Janis More (1911) que ela dizia o seguinte:
"A melhor coisa que eu fiz na minha vida foi não ter me casado cedo. Tive tempo de me conhecer e saber exatamente o que quero. A individualidade não se constrói a dois, se destrói, se já não estiver solidificada". 
Na hora me recordei de alguns momentos em que eu me vi exatamente como ela citou, com a "individualidade destruída". Hoje, independente, forte, certa de mim, de quem sou, para onde vou e o que quero e não quero, fico estarrecida em recordar que até mesmo eu (tida pelos amigos homens como uma mulher que intimida, que deixa muitos inseguros, "inalcançável") pude chegar a extremos destemperados de humor e emoção.
Andando pela Gávea encontrei um amigo meu, um cara solitário, inteligente e se sentindo muito carente... Sentamos no Talho para tomar um café e colocar o papo em dia quando ele me disse que não aguenta mais essa "era líquida" como eu gosto de falar parafraseando o Bauman.
Aquele ser másculo com pós-doutorado estava frágil e carente... E quanto mais eu falava da minha independência emocional e em como mergulhei nos meus projetos, que não tinha tempo para nada além de trabalhar e, portanto, enrolava alguns "seguidores", meu amigo reagia muito mal: "as mulheres estão agindo como os homens! Estão dando 'perdido', ficam enrolando, nos fazem de bobo"... Soltei gargalhadas! Oras, eu estava apenas priorizando a minha vida enquanto aproveito para me conhecer mais. Estar a dois é bom, mas ter privacidade, liberdade e autonomia não é o máximo?
Sempre pensei que eu ia casar aos 30 (que era casar tarde na época em que eu “planejava a vida”, por volta dos 12 anos) e ia ter filhos com 32. Hoje tenho 32 e resolvi adiar esses planos: tenho tanta coisa importante para fazer antes! A lista é grande e eu sou persistente, não desisto, vou atrás, faço do impossível real, então será que quero casar e ter filhos? Se sim, qual o problema de ser aos 40? (ganho mais 8 anos!)
Essa confiança toda não existia quando em 2010 eu vivia choramingando pelos cantos, vivendo de mesadinha da vovó e sendo humilhada pelos que eu mais dependia emocionalmente. Gente que de tanto me esculachar no final me ajudou, graças aos seus ataques (morais) hoje conquistei o impensável (aquele impossível que eu disse antes).
Contei minha história para o meu amigo que se queixava de só ter conhecido “mulheres loucas” que ficavam obsessivas, perseguiam, escandalizavam e até agrediam fisicamente ele. Contei algumas loucuras que fiz onde coloquei minha dignidade no lixo (perseguição noturna na Lapa, cair de escada alcoolizada por conta de briga, me humilhar implorando atenção, ir ao fundo do poço). Meu amigo não acreditou que eu poderia ter feito aquilo, a imagem que ele tem de mim jamais comportaria aquela pessoa ensandecida e desequilibrada.
Este para mim é o ponto crucial, a gente atrai o que emite, se ele só atrai esse padrão, o que será que ele está emitindo? Ou melhor, será que ele é um gatilho que dispara esses desajustes psíquicos (ou acredito até espirituais?). Após longa conversa sobre o porquê de atrair tal padrão ele me confessou que de fato as mulheres que ele teve diziam que “saiam de si”, uma delas (espírita) disse ter entendido que surgia uma ira/raiva que ela sabia que não era dela... Por fim concluiu que achava que ele mesmo carregava algo que devia influenciar as mulheres.
Eu acredito na versão dele e sobretudo na honestidade e coragem de fazer uma analise assim, que compromete ele próprio. Contudo, acho que as mulheres que ele escolhe são sempre as mais propensas e vulneráveis a esse tipo de “absorção”, seja ela subjetiva ou espiritual.
Eu precisava escrever sobre isso porque vejo que o auto conhecimento (ou a experiência mesmo), o domínio de si mesmo e a consciência viva no final nos blindam de coisas do gênero, de manifestações ou distorções da nossa personalidade. Os conflitos psicológicos gerados por uniões doentias e parasitas criam dependência (não existe sado sem masoquista) e os dramas de controle (James Redfield) acontecem nesses contextos.
Então quando olho para trás e vejo que tive a coragem de me  jogar em relacionamentos desequilibrados sinto um misto de alívio - por isso ser algo tão distante de quem eu sou hoje, e de perplexidade - por simplesmente não conseguir entender como pude ter as reações que tive, irreconhecíveis até para mim! Tenho certeza que estive vulnerável energeticamente (espiritualmente também, claro) para que a falta de auto controle desse lugar a uma força destrutiva como a que quase causou danos irreversíveis como quando caí da escada.

Deve ser por isso que sou “inalcançável” como dizem os ditos "sinceros", não era bem a imagem que eu queria passar, mas devo parecer assim por me blindar, me proteger, antever, analisar bem e ter um certo “zelo distante” para conseguir então detectar se vale a pena incluir na minha vida já tão cheia de amor, sucesso, momentos lindos etc, alguém que eu não sei se veio para somar. E aí os homens acham que isso é “dar perdido”, "fazer de bobo", "ignorar" e paradoxalmente caem de amores e se apaixonam como as mulheres vulneráveis e frágeis fazem (caçador também vira caça baby!).
Dramas para cá e controle para lá, no fundo o que todos querem é não precisar controlar, é deixar fluir, é olhar e admirar como é, sem querer mudar, e isso, querido Bauman, querido Lipovetsky, não está dentro da liquidez das relações atuais; é eterno.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

excelente texto do Leonardo Boff

O cuidado do corpo contra o culto do corpo

10/12/2013
É enriquecedor entender a existência humana a partir da teoria da complexidade. Somos seres complexos, vale dizer, a convergência de um sem-número de fatores, materiais, biológicos, energéticos, espirituais, terrenais e cósmicos. Possuimos uma exterioridade com a qual nos fazemos presentes uns aos outros e pertencemos ao universo dos corpos. Temos uma interioridade, habitada por vigorosas energias positivas e negativas que formam nossa individualidade psíquica. Somos portadores da dimensão do profundo rondam as questões mais significativas do sentido de nossa passagem por este mundo. Estas dimensões convivem e intergem permanentemente uma influenciando a outra e moldam aquilo que chamamos o ser humano.
Tudo em nós tem que ser cuidado, caso contrário perdemos o equilíbrio das forças que nos constroem e nos desumanizamos. Ao abordar o tema do cuidado do corpor faz-se mister, antes de mais nada, opor-se conscientemente aos dualismos que a cultura persiste em manter: por um lado o “corpo”, desvinculado do espírito e por outro do “espírito” desmaterializado de seu corpo. E assim perdemos a unidade da vida humana.
A propaganda comercial explora esta dualidade, apresentando o corpo não como a totalidade exterior do humano mas sua parcialização, seus músculos, suas mãos, seus pés, seus olhos, enfim, suas partes. Principais vítimas desta retaliação são as mulheres, pois o machismo secular se refugiou no mundo mediático do marketing, expondo  partes da mulher, seus seios, seus cabelos, sua boca, seu sexo  e outras partes, continuando a fazer da mulher um “objeto de consumo” de homens machistas. Devemos nos opor firmemente a esta deformação cultural.
Importa tambem rejeitar o “culto do corpo” promovido pelo sem número de academias e outras formas de trabalho sobre a dimensão física como se o homem-corpo fosse uma máquina destituída de espírito, buscando performances musculares cada vez maiores. Com isso não queremos desmerecer os exercícios dos vários tipos de ginástica a serviço da saúde e de uma integração maior corpo-mente. Pensamos nas massagens que revigoram o corpo e fazem fluir as energias vitais, particularmente, as ginásticas orientais como o yoga que tanto favorece uma postura meditativa da vida. Ou no incentivo à uma alimentação equilibrada e sadia, incluíndo também o jejum seja como ascese voluntária seja como forma de equilibra as energias vitais.
O vestuário merece consideração especial. Ele não possui apenas uma função utilitária ao nos proteger das intempéries. Ele pertence ao cuidado do corpo, pois o vestuário representa uma linguagem, uma forma de revelar-se no teatro da vida. É importante cuidar  que o vestuário seja expressão de um modo de ser e mostre o perfil estético da pessoa. Especialmente significativo é na mulher pois ela possui um relação mais íntima com o próprio  corpo e sua aparência.
Nada mais ridículo e demonstração de anemia de espírito que as belezas construídas à base de botox e de plásticas desnecessárias. Sobre este embelezamento artificioso está montada toda uma indústria de cosméticos e práticas de emagrecimento em clínicas e SPAs que dificilmente servem a uma dimensão mais integradora do corpo. Entretanto não há que se invalidar as massagens e os cosméticos importantes para pele e para o justo enbelezamento das pessoas.
Mas cabe reconher que há uma beleza própria de cada idade, um charme que nasce da existência feita de luta e trabalho que deixaram marcas na expressão “corporal” do ser humano. Não há photoshop que substitua a beleza rude de um rosto de um trabalhador, talhado pela dureza da vida e com traços faciais moldados pelo sofrimento. A luta de tantas mulheres trabalhadoras, nas cidades,  no campo e nas fábricas  deixou em seus corpos um outro tipo de beleza, não raro,  com uma expressão de grande força e energia. Falam da vida real e não da artificial e construída. As fotos trabalhadas dos ícones da beleza convencional são quase todos moldados por tipos de beleza da moda e mal disfarçam a artificialidade da figura e a vaidade frívola que aí se revela.
Tais pessoas são vítimas de uma cultura que não cultiva o cuidado próprio de cada fase da vida, com sua beleza e irradiação, mas também com as marcas de uma vida vivida que deixou estampada no rosto e no corpo as lutas, os sofrimentos, as superações. Tais marcas criam uma beleza singular e uma irradiação específica, ao invés de engessar as pessoas num tipo de perfil de um passado irrecuperável.
Positivamente, cuidamos do corpo regressando à natureza  e à Terra das quais há séculos nos havíamos exilado, imbuídos de uma atitude de sinergia e de comunhão com todas as coisas. Isso significa estabelecer uma relação de biofilia, de amor e de sensibilização para com os animais, as flores, as plantas, os climas, as paisagens e para com a Terra. Quando esta é mostrada a partir do espaço exterior com essas belas imagens do globo terrestre transmitidas pelos grandes telescópios ou pelas naves espaciais, irrompe em nós um sentido de reverência, de respeito e de amor à nossa Grande Mãe de cujo útero todos viemos. Ela é pequena, cosmologicamente já envelhecida, mas irradiante.
Talvez o desafio maior para o homem-corpo consiste em lograr um equilíbrio entre a autoafirmação, sem cair na arrogância e no menosprezo dos outros e entre a integração no todo maior, da família, da comunidade, do grupo de trabalho e da sociedade, sem deixar-se massificar e cair no adesismo acrítico. A busca deste equilíbrio não se resolve uma vez por todas, mas deve ser assumido diuturnamente,  pois, ele nos é cobrado a cada momento. Há que se encontrar o balanço adequado entre as duas forças que nos podem dilacerar ou integrar.
O cuidado em nossa inserção no estar-no-mundo envolve nossa dieta: o que comemos e bebemos. Fazer do comer mais que um ato de nutrição, mas um rito de celebração e de comunhão com os outros comensais e com os frutos  da generosidade da Terra. Saber escolher os produtos orgânicos ou os menos quimicalizados. Daí resulta uma vida saudável que assume o princípio da precaução contra eventuais enfermidades que podem advir do ambiente degradado.
Destarte  o homem-corpo deixa transparecer sua harmonia interior e exterior, como membro da grande comunidade de vida.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Véspera de submissão de artigo

Tenho que falar bonito sobre o tema que escolhi. Minha vaidade, ego, perfeccionismo e insegurança emergem de tal forma que paralisada fico. Invento mil distrações, ora estou com fome, ora preciso vêr TV pois me sinto sem inspiração, ou necessito fazer minha sobrancelha, unha... E sinto muito sono! No meio da leitura aceleradora da mente (tática para depois escrever), não consigo completar meu plano pois já estou caindo de sono.
Rezo, medito, me irrito com qualquer coisa na internet e perco a paciência com os amigos que não precisam publicar um artigo.
Que coisa chata me preocupar com como lerão o que eu digo. Obvio, eu sou muito crítica quando leio os outros - principalmente iniciantes das ciências... Quão pretensiosa! Na hora de lêr é fácil criticar, na hora de escrever e pros outros, aí tudo complica de uma hora pra outra e as palavras que antes fluíam agora parecem engasgar e nada faz muito sentido, e nunca está bom o suficiente.
Faz mais de um ano que não escrevo nesse meu blog, que também não curto divulgar muito. Isso deve ser um bom sinal (de que além de ocupada, não estou mais "precisando" escrever), e toda vez que venho aqui me pergunto porque faço isso. Talvez seja para quando eu tiver lá pelos 70 queira reler tudo... Que tédio! Prefiro viagens e amores (mesmo que aos netos...).
No fim da noite olho para o que eu tinha para fazer, tanta coisa planejei e tudo continua intocado... O tempo voa de uma forma que só lembro que passou quando chega a fatura do cartão de crédito e eu vejo que vivi vários dias (vida para consumo? Hello Bauman!).
 Porque não tive tempo para acordar muito cedo, ir pedalar na orla do leblon à ipanema, beber uma água de coco, dar um mergulho e aproveitar meu plano na academia que oferece 10 mil opções de aulas para modelar meu corpo. A propósito, esse é meu tema. Estou na parte final onde falo do papel do designer como conciliador entre a modelagem do corpo e a modelagem do biquíni carioca. O ponto central dessa parte da pesquisa é que após eu falar sobre a dimensão simbólica do corpo feminino em um contexto de inovação tecnológica nas ciências (medicina estética, biomedicina, técnicas corporais etc), de um lado temos o corpo como uma peça de argila a ser esculpida pelo próprio dono, mestre e autor de sua modelagem, formas, curvas e cores - e de outro lado temos a indústria fornecendo novos suportes, novas técnicas e materiais para a execução da (re)modelagem corporal e também o acompanhamento desse corpo modelado através da moda. Na indústria de moda praia o designer busca conciliar a modelagem do biquíni, dos suportes, das matérias primas e tecnologias inovadoras com as demandas que segmentos do mercado consumidor de biquíni buscam.
O papel do designer é interdisciplinar, ele faz seu projeto dialogar com variadas dimensões para desenvolver um produto completo, ou seja, o projeto não se limita a escolha de estampas, conceito, cores e modelagens, ele como "um todo" faz pontes com o que se observa de comportamento social, anseios de novas demandas, de segmentos de consumidores mais fragmentados ou diversificados, onde para cada corpo haverá um lugar, ambiente, história, grupo social e discurso.
As mídias digitais e a liquidez das redes sociais tornam os processos de subjetivação mais dinâmicos, as trocas simbólicas são mais fruídas. Corpos são mostrados, exibidos para amigos, amigos de amigos ou qualquer pessoa. Corpos que ostentam códigos de regulação, comunicam o gosto, a tendência de moda, a criatividade de quem produz e é dono do corpo da imagem que divulga: detalhe do acessório, a forma de amarrar o lacinho, o tamanho da roupa, do biquíni, da prótese de silicone, tudo faz relação com a linguagem,  com o que rodeia o coletivo e se torna vigente: na moda, no gesto e no discurso.
As marcas de moda praia que antes criavam suas coleções em conjunto com as estratégias de entrada de mercado, publicidade e branding, vão se adaptando às novas formas de comunicar que vão surgindo na era digital e das redes socias, por exemplo.
Cabe ao designer de moda praia, ou demais profissionais ligados à execução da coleção da marca, o mergulho na dimensão simbólica desse corpo que consome e vive a cultura de praia. Nossa conclusão é que o  profissional que não faz parte ou pelo menos estuda esse repertório (imagético, dos discursos, dos usos de produtos ligados à cultura de praia, das tribos urbanas e dos costumes da usuária de biquíni), ele até pode se utilizar ou copiar o que é feito ou replicar o que já conhece, mas ficará atrás na corrida das marcas e posicionamento de mercado - podendo chegar ao status de obsolescente, o que favorece muito a perda de fôlego nos negócios - até falência da marca/ empresa.
O papel do designer de moda praia em tempos de mudanças rápidas como a democratização de estilos e o paradoxo da ditadura da beleza em relação aos corpo talvez seja entender os tantos fatores que tornam a moda praia diversificada e contribuem para o surgimento de novas demandas.

Enfim, falei, falei, ficou caído, mas no final tudo dá certo. Daqui vomitei um pouco, depois sei que vou digerir melhor e na pressão da última hora ficará excelente! (a esperança é a última...)

#vidademestranda

sábado, 3 de novembro de 2012

Tudo hoje pra gente


No topo da febre
Tudo é pra ontem
Tudo é efêmero
Tudo que é bom, dura pouco.
Tudo é quase nada hoje
Dizem que para não deprimir, você deve se manter ocupado. Mas e se eu não quiser fazer nada, além de só observar?
Logo penso no que observo. E nem sempre entendo. Me sinto vazia de tudo dentro, falta entender as razões fundamentais para as coisas serem o que são e para que elas mudem quando começo a entender o que acabaram de ser... e se foram.
Foram histórias com moral, com coincidências, com emoções que a gente tenta explicar criando fatos lógicos ou mitos, no fundo parece que é tudo a mesma coisa: ficção.
Mas o algo que me tira da cama, tira do sério, tira da ociosidade, me leva pro universo  da observação fundamentada – pelo menos pelas impressões de uma alma inquieta por não se sentir blindada pelo mundo tirano, nenhuma natureza mais sensível suporta o pouco do tudo ao redor.
Chamam-me de louca, mas poderia ser apenas artista. Pensar dessa forma livre, versada, poetizada e melancólica, me faz sentir que o tudo- real pode ser mais vivo que esse festival de tudo-vazio que sou obrigada a entender, absorver, repetir, interagir  e depois vomitar.
Até quando ser Humano é ser fraco?
Até quando teremos que continuar a fingir a felicidade completa através do virtual? Virtú não está no virtual, sabia? Seres feitos de moldes perfeitos...  Todos querem o mesmo molde em níveis diferentes... Mas esquecem que além de ilusão, de segredos para o sucesso e de auto ajuda revestida de ciência, que precisamos voltar a ser gente.  Gente que sente.
Janara.:

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A culpa é de quem?

Não existe nada mais alentador na vida do que você, após se culpar de algo ter dado errado, muito errado, e mesmo você podendo escolher em insistir no erro, que é um erro viciante, conseguir ter forças para fazer o que é correto.
Num primeiro momento é dureza. As suas energias se esgotam, você não tem vontade de fazer nada. Já em um segundo momento percebe que apesar de tudo, de ter o coração chorando, literalmente dilacerado, que ainda fez o correto... Tudo indica que aquele caminho levaria a mais dor.
Num terceiro momento você tem pensamentos vacilantes, opõe ao sentimento as lembranças mais pertubadoras e decide continuar forte. E aí parece que o universo realmente conspira para algo bom. Você começa a descobrir, sem fazer esforço algum, que aquele caminho seria o pior de todos. Encontra pessoas que como anjos, te alertam para os perigos da escolha errada - de vincular sua vida iluminada na vida de nuvens, confusão e desequilíbrio... Pra melhorar, esses anjos se multiplicam, surgem com recados importantes, te protegem e você percebe que não teve culpa, que você, só foi você, inteira e honesta, que tentou, e que o o outro é que é maluquinho e já estava te desequilibrando...
Pra fechar com chave de ouro, apesar do coração partido (como você queria que fosse o caminho certo, como o coração pode ter enganado tanto você?), você sonha a noite toda... E no seu sonho, sonha com a vida do outro, e vê que ele só dá valor a três coisas: seu trabalho, sua estabilidade (casa, crescimento) e sua arte (seu lado lúdico, intuitivo). Que ele sabe que a mulher que estará ao seu lado deverá ser rica e culta, mas que toda mulher é uma cobra (no fundo ele desconfia de todas, principalmente se não for uma mulher com poses). Que a mulher que o atrai é pura, e que ele aproveita para colocar seu lado ator, malandro, ele se acha uma raposa quando encontra essa mulher inocente. Que casamento, união, relacionamento, amor... Tudo que é ligado a sentimento e vínculos, isso na cabea dele é muito confuso... E às vezes é tão confuso que ele precisa fugir de tudo - e faz isso sempre, mas deixa seu rastro, sai podando aqueles amores que projeta, mas que por algum detalhe os mata em seguida.
Nesse sonho, ficou claro que o caminho de insistir no amor seria a maior burrice de todos os tempos. Que a decepção com um - não pode virar decepção geral com o mundo (o mundo não era tão feio antes dele), que cada um dá o que tem e recebe da vida aquilo que merece...
Como alguém pode falar a língua do amor se o outro vê o amor com desconfiança?  No final o recado foi o mesmo: os anjos disseram para não acreditar no "menino maluquinho"... - "Ele é desequilibrado e você não".
JM.: 

domingo, 8 de julho de 2012

O papel da mulher na sociedade, um olhar sobre o sexo e as sutilezas do amor imaginado.


Nas fábricas do Maya, (leia-se ilusão, fantasia, vida fútil) as festas onde corpos e sorrisos se espalham na exibição do pavoneamento, ato  intrínseco dos sujeitos feminino e masculino, ali um ambiente de mostra da sexualidade se inscreve. Mais adiante é possível ouvir conversas sobre o sexo. A mulher segura de si, com o corpo trabalhado por musculação e um olhar direcionado para cima, acima de todas as pequenas que a cercavam, sentenciava: "com ele era ótimo, sem ele é muito melhor"... "me amo muito mais que amo ele, a gente tem que estar bem para atrair pessoas legais...". Antes ouvia-se o homem maduro, o que se diz homem de verdade, ele dizia que as coisas estão confusas, reclamava que a mulher hoje perdeu seu lado feminino, o que se confundia com a ‘submissão’, que na visão dele encantava, que hoje ela só quer competir e que o auge seria querer mostrar através do dinheiro-poder que ela era independente, e que não precisava de nenhum homem. Para ele isso refletia na verdade uma insegurança, e continuou sua análise usando mil exemplos, parecia até uma mulher falando de suas lutas para conseguir ser competente em tudo e ainda poder "chegar junto" em termos materiais com o parceiro.
No terreno da psicanálise, onde pesquiso de forma despretensiosa, já que minha formação é completamente outra, encontrei alguns artigos sobre a questão da mulher e da sexualidade, é surpreendente como a natureza feminina cria bases na esfera do imaginário, onde planta, semeia e cultiva sua visão de mundo, expectativas, frustrações. E o repertório das frustrações - quase inevitável quando se coloca o imaginário regendo tudo, é que mais que uma pulsão, se torna uma forma de masoquismo direto ou indireto, indireto quando é através dele que se legitima o lado "feminino" do deixar de ter para ser (pertencendo ou ser o outro - do homem) 
                    
“O homem serve aqui de conector para que uma mulher se torne Outro para ela mesma, como o é para ele” - Lacan

Impressionante como a mulher se recalca (talvez na falta do falo, na erotomania) e constrói um repertório de (des)construção de si mesma para então Ser - no fundo para pertencer, se torna o "objeto maltratado" do homem que ela ama, e é justamente no amor que ela deposita todas as falhas do Real, aquilo que seria o "todo" mas que é invisível em detrimento de uma necessidade de Ser para o Outro.
Laurent observa que no campo amoroso, a mulher pode enveredar pelo caminho de ser tudo para ele, e pode ir muito longe nisso.  O primeiro passo consiste em perder (para ser, perder ter) tal qual na prática do Potlatch (prática tribal onde o ato de dar tudo, renunciar todos os bens que se tem, de forma irracional é tido como honra para o homenageado, vide Mauss). Mas, por alguma contingência, ela pode começar a se questionar sobre o que quer nessa parceria / relacionamento e perceber que não é nada para o outro, e que seu único lugar reservado seja o de objeto maltratado. Quando isso ocorre sua posição subjetiva nessa parceria deixa de ter seu lugar.
A mulher busca a palavra de amor para isolar um significante que "edifica" o seu ser, uso aspas por se tratar de uma esfera do simbólico. É pela via do amor que ela abre perspectiva de se fazer toda, de achar um significante justamente onde o significante não existe ou responde. Essa demanda (do amor) é  colocada no lugar do significante cumprindo uma função de suplência, o que pode e certamente trará riscos, pois a mulher passará a ser mais dependente dos signos do amor vindos do objeto amado, e isso pode torná-la mais vulnerável a qualquer tipo de concessão, são as mulheres da devoção. 

Lacan, Freud, Laurent, Mauss, dentre outros, falam dessa dimensão sexual e amorosa da mulher focando em oposição ao homem - que teme a castração, na mulher o temor viria da privação - de algo que eles chamam de uma certa inveja do pênis (?!) no sentido de achar um substituto para o falo - esse termo, privação, vem acompanhado dos termos castração e frustração. Seria uma falta de algo que poderia estar alí, é a privação no campo do simbólico.

Diante de tamanha complexidade que varia de forma e lugar em acordo com de onde se diz, o ato de pensar as relações nos dias atuais se torna quase um ato estéril, já que não existe uma ou umas explicações que possam "dar conta" de resultados, no sentido de elucidar questões que possam clarear as articulações ocorridas no encontro com o outro - em um relacionamento, seja ele de que proporção for. Esse enunciado me faz refletir sobre o quão pequenos somos, e o quão prepotentes também, me recolho na insuficiência da explicação e no vazio de estar falando em "eco", pois poucos entenderão minha voz - é muito mais simples a gente fechar os olhos e repetir como mantras as regras de um bom convívio... Mesmo que esse seja coberto por práticas hipócritas, mesquinhas, preconceituosas... É muito mais fácil, tanto para o homem, quanto para a mulher, ser cego na razão, adotar posturas inscritas pelas gerações passadas e adicionar as novas e confortáveis posições dogmáticas em que o homem passa a escolher o que quer de uma mulher e vice-versa, deixando de lado tudo que os faça entrar em contato com o REAL - o real é traumático, e vivemos na era do gozo, do líquido, da efemeridade das relações, que se constroem e destroem como um capítulo de novela, recheadas de paixão frívola, de superficialidade, medo de olhar pra dentro e assumir sua própria estupidez, medo de olhar pro  lado e assumir sua mesquinharia, egoísmo egoico, nem um pouco fundado nos preceitos espiritualistas aos quais nós, os sujeitos sociais, os porta vozes da sociedade civilizada, culta, progressista, elegemos como bandeira última de nossa existência, a finesse, o ser do bem, o ser de Deus, não passam de rótulos  para dizer nada sobre os atos reais - só serve para justificar nossa preguiça de pensar, de sermos justos e corajosos na vida, no amor e também na materialidade. 
JM.:

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Todos somos céticos

Compartilho esse texto do jornalista André Trigueiro


Todos somos céticos

ter, 03/07/12
por andre trigueiro |
categoria Sem categoria

Jornalista não é cientista, mas quando cobre os assuntos da ciência precisa entender minimamente os procedimentos e valores que regem esta comunidade. O que segue abaixo – em tópicos – é um resumo daquilo que me parece importante destacar sobre a cobertura dos assuntos ligados às mudanças climáticas. 
Quem são os “céticos”? 
A boa ciência, por princípio, tem o ceticismo como precioso aliado. São céticos todos os cientistas que norteiam seus trabalhos sem visões preconcebidas, dogmas ou interpretações pessoais da realidade desprovidas da correta investigação científica. É equivocado, portanto, chamar de “céticos” apenas aqueles que hoje se manifestam contra a hipótese do aquecimento global, ou da interferência da humanidade nos fenômenos climáticos. 
A diferença entre opiniões pessoais e trabalhos publicados  
Todo cientista tem o direito de compartilhar opiniões, impressões ou análises superficiais sobre o assunto que bem entender. Para a ciência, isso é tão importante quanto a opinião manifestada por qualquer leigo. Neste meio, vale o que foi publicado em revistas especializadas, de preferência as que adotam o modelo de revisão pelos seus pares, ou “peer review” em inglês (como a Science ou Nature, para citar apenas as mais famosas), onde o conselho editorial é composto por cientistas que indicarão outros cientistas. Estes terão o cuidado de aferir se a nova hipótese para a explicação de um determinado fenômeno seguiu rigorosamente os protocolos de investigação que regem o método científico. Sem isso, o conteúdo em questão – ainda que emitido por um cientista – se resume à categoria de mera opinião.
Na cobertura jornalística, em havendo controvérsia sobre um determinado assunto, convém verificar a quantidade e a qualidade dos trabalhos publicados. Até o momento, os estudos sobre mudanças climáticas se concentram majoritariamente em favor da hipótese do aquecimento global. As duas correntes científicas, neste caso, não são equivalentes nem proporcionais. Embora ambas mereçam respeito. 
A ciência do clima 
Essa é uma área nova de investigação científica extremamente complexa e imprecisa. Não há certezas absolutas (em ciência, pode-se dizer, nunca haverá 100% de certeza já que a hipótese prevalente pode um dia ser invalidada diante do surgimento de novas evidências) e a controvérsia alimenta o debate na busca daquilo que venha a ser a melhor explicação para o fenômeno observado. O próprio IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas)  reconhece em seus relatórios as várias incertezas ainda existentes. As modelagens do clima não explicam totalmente as variações de temperatura em função das emissões de gases estufa. Ainda assim, há hoje mais certezas do que dúvidas de que o planeta está aquecendo e que os gases estufa emitidos pela Humanidade contribuem para esse fenômeno. 
As oscilações naturais de temperatura do planeta em eras geológicas, a interferência do Sol nos fenômenos climáticos e todas as outras possibilidades que explicariam o que está acontecendo hoje são objeto de inúmeros estudos e pesquisas. Mesmo assim, segundo a corrente majoritária de cientistas, não há, até o momento, outra explicação mais convincente e embasada para explicar as mudanças climáticas, do que a interferência humana. 
Foi por isso que a maioria dos países assinou em 1992 o Acordo do Clima (que reconhece essa interferência no fenômeno climático), consolidou em 1997 o Tratado de Kioto (que estabeleceu prazos e metas para a redução das emissões até 2012), e definiu em 2011 o Mapa do Caminho de Durban (que estabelece o prazo limite de 2015 para que todas as nações apresentem seus compromissos formais de redução dos gases estufa para implementação a partir de 2020). 
Teoria da conspiração 
Soa leviano – quase irresponsável – resumir o endosso à tese do aquecimento global de numerosos contingentes de cientistas e pesquisadores de algumas das mais importantes e prestigiadas instituições do mundo a uma conspiração que teria por fim “impedir o crescimento econômico dos países pobres ou emergentes no momento em que eles poderiam queimar muito mais combustíveis fósseis” ou “privilegiar setores da indústria, especialmente européias, que desenvolveram patentes de novas tecnologias para a produção de energia mais limpa e renovável”. É incrível ver como declarações nesse sentido são repetidas à exaustão por pessoas que, em alguns casos, se dizem cientistas.
 Com toda franqueza: como imaginar que a maioria absoluta dos países (ricos, emergentes e pobres) com suas muitas diferenças políticas, ideológicas, econômicas e sociais, sejam manipulados de forma tão grosseira em favor de uma gigantesca farsa que teria o poder de burlar a vigilância de suas respectivas comunidades científicas? Essa absurda teoria conspiratória relega a segundo plano a idoneidade, a honestidade intelectual e a autonomia de pessoas físicas e jurídicas do mais alto gabarito, em quase 200 países, que avalizam publicamente a hipótese do aquecimento global, e com influência humana. Em se tratando apenas de personalidades brasileiras, deve-se mais respeito a figuras como José Goldemberg, Paulo Artaxo, Carlos Nobre, Luis Pinguelli Rosa, Roberto Schaeffer, Suzana Kahn, Gylvan Meira, entre tantos outros que são reconhecidos dentro e fora do país, inclusive pela produção acadêmica que lhes afere enorme credibilidade. 
Como imaginar que esse suposto “movimento orquestrado em favor do aquecimento global” seja ainda mais poderoso do que o lobby dos combustíveis fósseis (ou mesmo das empresas do setor automobilístico), a quem a hipótese da elevação da temperatura do planeta pela queima de óleo, carvão e gás tanto incomoda por razões óbvias? É inegável o poder que as companhias de petróleo ainda possuem para financiar campanhas, definir políticas públicas e os resultados de Conferências da ONU, como foi o caso recentemente da Rio+20, onde não se conseguiu reduzir em um único centavo aproximadamente 1 trilhão de dólares anuais em subsídios governamentais para os combustíveis fósseis no mundo inteiro. 
A Justiça é cega?  
Merecem registro decisões históricas da Justiça americana – baseadas única e exclusivamente no conhecimento científico já construído sobre o aquecimento global – de que o dióxido de carbono (CO2) é um “gás poluente” (Suprema Corte/abril de 2007) e que o Governo Federal tem competência para regular as emissões de gases estufa (Tribunal de Apelações, semana passada, por unanimidade). Como os juízes não são especialistas no assunto, foram buscar a informação mais confiável e balizada possível na literatura, junto a peritos e instituições renomadas acima de quaisquer suspeitas. Neste caso, o trabalho dos juízes se confunde com o dos jornalistas na busca pela informação mais confiável. 
O risco
Se não há 100% de certeza se os gases estufa emitidos pela Humanidade – especialmente pela queima progressiva de óleo, carvão e gás – contribuem efetivamente para o aquecimento global, por que se deveria apressar investimentos em mitigação (redução das emissões) e adaptação (prevenir risco de mortes e importantes perdas materiais em função dos eventos extremos, elevação do nível do mar etc)? A resposta é simples e leva em conta a mesma lógica que determina a opção por um seguro de vida, da casa ou do carro. Em todas essas modalidades de seguro, a probabilidade de acontecer algo indesejado é muito menor do que aquela que os cientistas apontam em relação ao clima. Ainda assim, muitos de nós consideram sensato recorrer a companhias de seguro para se precaver de eventuais riscos, por mais remotos que sejam. 
Há outra questão importante: todas as recomendações do IPCC para que evitemos os piores cenários contribuiriam para um modelo de desenvolvimento mais inteligente e saudável. Reduzir as emissões de gases poluentes, combater os desmatamentos, tratar o lixo e o esgoto, promover a eficiência energética, priorizar investimentos em transportes públicos de massa, entre outras medidas, geram mais qualidade de vida, saúde e bem estar. São as chamadas “políticas de não arrependimento”. Se em algum momento for proposta outra hipótese robusta para as variações do clima, o que se preconiza agora como “o certo a fazer” não deixará de ser “o certo a fazer”. Mudaria apenas o senso de urgência para que os mesmos objetivos sejam alcançados. 
Qual é a prioridade?  
Num mundo onde ainda há tanta pobreza, fome e miséria, pode-se defender como prioridade a canalização de recursos para a solução imediata destes problemas. É um pensamento legítimo. Mas o caminho do desenvolvimento pode ser sustentável e inclusivo. Uma agenda não exclui a outra. Uma questão dada como certa por boa parte dos cientistas é que o não enfrentamento das mudanças climáticas tornará a situação dos pobres e miseráveis ainda mais angustiante e aflitiva. Melhor agir, e logo.

domingo, 1 de julho de 2012

Sobre a criatividade

Preciso escrever um artigo acadêmico. Para quando? Ah, ainda para daqui 2 meses...

Faltam 2 dias para a data final, limite para a entrega do artigo e tudo que tenho produzido são ideias vagas sobre o que quero e sobre o que não quero abordar. Sem contar a parte técnica, que demanda sempre muito mais tempo do que pensamos (sempre subestimo), ainda precisamos de tempo para absorção, crítica, correção, revisão, etc.
Nada sai, nada flui, só o resto me interessa quando preciso fazer algo, será que isso só acontece comigo?
Lembrei da tirinha do Calvin (vide imagem), acho que isso ocorre com um perfil de pessoas, as que precisam ou acreditam que "inspiração" é fundamental.
A verdade é que isso é uma construção que funciona muito para os que se acham uns "artistas" - o fato é que esse mito só serve para tapar um lado indolente, é desculpa para falta de disciplina, para preguiça e para os que se auto-mimam demais... Artista uma ova! Todo o tempo que havia livre se tornar distrações de toda índole só conota uma coisa: falta de foco, displicência e uma certa prepotência no sentido em que achamos que faremos a mesma coisa tão bem quanto o colega que passa 6 horas por dia na biblioteca. Ilusão.
Inteligência ajuda, mas o poder que ter disciplina e de conseguir bater metas proporciona é muito mais acertivo quando a intenção é evoluir.
Estímulo é a palavra certa, percebo que quando me sinto estimulada para escrever sobre um tema que me interessa, sem pressão de data de entrega, avaliação alheia, medo de errar, crítica, etc.; acabo reunindo energias suficientes para espantar o sono, ficar focada, fazer tudo com maior perfeição, vontade, beleza e o trabalho simplesmente FLUI. Então, pode ser que seja preciso experimentar formas de adaptar nossa força criativa aos trabalhos cotidianos impostos pelas nossas escolhas de vida (trabalho, vida acadêmica, etc). Acredito que haja  uma fórmula individual, experimentarei a minha: Fazer como se fosse para mim e depois formatar para o padrão exigido.

Talvez a vida seja isso, fazer o melhor, como se fosse para nós, e depois adaptar para que seja o melhor para o outro, para a sociedade,  para quem toleramos e principalemente para quem amamos.



Refletir:
 Escrevi esse post em menos de 10 minutos com a imagem incluída. O artigo não possui nem 1 parágrafo, mais de 60 dias.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Homenagem ao morto



‎"R E LA C I O N A M E N T O S"

Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim. Como tudo na vida.
Detesto quando escuto aquela conversa:
- 'Ah,terminei o namoro...
- 'Nossa,quanto tempo?'
... - 'Cinco anos... Mas não deu certo...acabou'
- É não deu...?
Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.
E o bom da vida é que você pode ter vários amores.
Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos esta coisa completa.
Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é malhada, mas não é sensível.
Tudo nós não temos.
Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro.
Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico; que é uma delícia.
E as vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante...e se o beijo bate... se joga... se não bate...mais um Martini, por favor... e vá dar uma volta.
Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra.
O outro tem o direito de não te querer.
Não lute, não ligue, não dê pití.
Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não.
Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.
Nada de drama.
Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro, recessão de família?
O legal é alguém que está com você por você.
E vice versa.
Não fique com alguém por dó também.
Ou por medo da solidão.
Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.
E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.
Tem gente que pula de um romance para o outro.
Que medo é este de se ver só, na sua própria compania?
Gostar dói.
Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração. Faz parte.
Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo
E nem sempre as coisas saem como você quer...
A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.
Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta.
Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.
Na vida e no amor, não temos garantias.
E nem todo sexo bom é para namorar
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.
Nem todo beijo é para romancear.
Nem todo sexo bom é para descartar. Ou se apaixonar. Ou se culpar.
Enfim...quem disse que ser adulto é fácil?

(Arnaldo Jabour)

Pixinguinha é demais!

Carinhoso


Meu coração, não sei por quê
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo,
Mas mesmo assim foges de mim.
Ah se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero.
E como é sincero o meu amor,
Eu sei que tu não fugirias mais de mim.
Vem, vem, vem, vem,
Vem sentir o calor dos lábios meus
À procura dos teus.
Vem matar essa paixão
Que me devora o coração
E só assim então serei feliz,
Bem feliz.
Ah se tu soubesses como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim
Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus
Vem matar essa paixão que me devora o coração
E só assim então serei feliz
Bem feliz



Essa letra é muito bonita e toca o interno dos românticos de plantão


Ingênuo

Pixinguinha

Eu fui ingênuo quando acreditei no amor
Mas, pelo menos jamais me entreguei à dor...
Chorei o meu choro primeiro
Eu chorei por inteiro pra não mais chorar
E o meu coração permaneceu sereno
Expulsando o veneno pelo meu olhar...
... eu procurei me manter como Deus mandou
Sem me vingar que a vingança não tem valor
E depois também perdoar a quem erra
É ser perdoado na Terra
Sem ter que pedir perdão no céu.
Eu não quis resolver
Eu não quis recusar
Mas do amor em ruína, uma força termina
Por nos dominar e depois proteger
Dos abismos que a vida traçar
Quando o tempo virar o único mal
E a solidão começa a ser fatal...
Eu não quis refletir, não
Eu não quis recuar, não
Eu não quis reprimir, não
Eu não quis recear...
Porque contra o bem nada fiz
E eu só quero algum dia
Ser feliz como eu sou infeliz...



Essa outra é uma das minhas prediletas do Pixinguinha. Maravilhosa!

Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito seu
Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer

sábado, 23 de junho de 2012

Final feliz

Ter coragem para tomar decisões difíceis, porém necessárias é libertador! Desapegar é difícil mas quando conseguimos sentimos uma força que nos deixa poderosos! Optar pelo desconhecido em detrimento do velho pode gerar medo, mas sair da inércia é uma vitória maior que insistir naquilo que nos corrói e destrói a beleza da nossa alma. Vamos enfeitar nossa alma e desejar uma vida boa para aqueles que não mereceram nossa confiança. Respeito não se exige, a gente se dá através de ações.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Somos muito pretensiosos

Não quero fazer um texto barroco, cheio de frases de efeito e colocações que fadigam nossa faculdade da inteligência. Quero dizer de forma clara e coesa o que penso sobre a nossa enorme pretensão de achar que sabemos de algo, ou que algo que sabemos é absoluto, uma Verdade com "V" maiúsculo. Não é. Pra mim não é porque para começar eu não acho coerente que diante da infinitude do universo e da vida _ ou das vidas, que possamos impor para o outro alguma visão fechada sobre qualquer coisa ou valores que cultivamos. Vou exemplificar: Você quer comprovar algo na sua vida, não através da crença, mas da sua vivência pessoal. Daí surge uma oportunidade e você entende aquilo que queria entender... Passa a tomar aquela experiência como uma verdade para si mesmo - aquilo fica internalizado. Ás vezes é algo que coincide com outras ideias, pensamentos alheios que passaram pelo mesmo caminho. O problema todo é quando você vive uma experiência com o outro, e tal experiência é oposta ao que você havia antes internalizado como sua verdade, mas por conta dessas "verdades", você acaba por querer impor ao outro uma visão que não dá margem a outras maneiras de vêr (ouvir, sentir, traduzir).
Faço muito essa auto-crítica, de tentar confrontar minhas visões com o universo do outro, assim talvez surja em mim uma flexibilidade mental que se manifesta através da compreensão. Eis que surge outro problema, quando o outro não consegue lidar da mesma forma como você faz com questões as quais há divergência entre os dois. Nesse caso há uma disputa de quem tem mais razão e de quem deveria abrir mão, ou ser mais tolerante. O auto-orgulho se manifesta através da arrogância e fica mais evidente ainda quando a pessoa tem sua segurança pessoal mal trabalhada.
Essas cotizações de "quem dá mais" (quem vacilou mais, quem se doou mais, etc) se tornam cada vez mais acirradas, levando as pessoas à uma estafa mental e emocional, algo que consome energia e nos tira a luz. Não é bom pra ninguém, eis o maior motivo de todas as guerras, a falta de compreensão e a enorme pretensão em achar que podemos reduzir o mundo (de fora/ do outro) a somente nossa opinião.
Quando somos imaturos, achamos que sabemos tudo, quanto mais buscamos entender a vida e nos conhecer, com anelos de superação, mais notamos o quão vantajoso é cultivarmos o "só sei que nada sei", claro que nossas experiências pessoais e verdades nos ajudam a fazer escolhas, mas isso é para nós e não para impor ao outro, impor ao outro a sua forma de pensar e agir é além de desrepeituoso é invasivo!
Esse texto é para deixar uma simples mensagem: que tenhamos mais humildade para rever nossas atitudes e escolhas, que tenhamos coragem para assumir quando não agimos de forma correta com o outro, ou que se nós os magoamos, mesmo quando acreditamos ter "razão", que tenhamos algo acima dessa razão, que eu chamaria de altruísmo para conseguir enxergar o impacto das nossas ações no interno do outro. Por fim, que tenhamos muito claro a ideia de que ainda precisamos comer muito arroz e feijão e viver muitas etapas de vida para poder chegar a conclusão de que quanto mais sabemos, mais precisamos saber - e isso nós dá segurnaça e não uma falsa sensação de possuir algo no mundo das ideias- que só nos faz materializar (más)  ações que no final se voltam contra nós mesmos, nos defrauda, e é assim que agimos contra nós, quando estamos nesse estado de vida inconsciente e falamos com a voz do sistema instintivo e não da Razão.
Inteligência não é  quantidade de conhecimento que você acumula, e sim a forma que você dá aos conhecimentos que acumula, ou como você aplica tais conhecimentos a sua vida; através de palavras, ações e do exemplo.
JM.:

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Amor de borboleta

A moça da vila podia estar apaixonada. Ela não era boba, já tinha visto de tudo e sabia o que era o amor. Aos pouquinhos o sedutor herói foi brincando com as moças todas, mas um dia por ela se apaixonou. Era de fadas o conto, mas as bruxas estavam soltas.
Os dois foram se descobrindo - como em um canto sacro, alí havia um romantismo poético que transcendia qualquer tentativa de articular um raciocínio mais lógico. A embriaguez do amor os fazia imaginar todo tipo de realidade virtual... O príncipe e a princesa.
Como em qualquer conto de fadas, aquilo também estaria sujeito as más influências externas, forças negativas iam se acumulando ao redor e obscurecendo o sentimento que de puro no começo, passava a um tom acizentado... Medos, inseguranças, desconfianças, pequenas mentiras - temor das grandes...
Eles formavam um casal bem convincente, se pareciam até na fisionomia, tinham os mesmos valores, eram uma espécie muito diferente em um mundo moderno, eles gostavam do clássico e cultivavam o espírito.
Como então poderes externos puderam ser tão influentes a ponto de deixar uma áurea de desconfiança, onde tudo que é dito é mal entendido, tudo que é feito é visto de forma negativa, tudo é distorcido...
A moça da vila, em tom de desespero, se sentia insegura e angustiada - pois sabia que já o amava. Aquele herói havia feito ela passar por situações constrangedoras, outras até desrespeituosas... Mas o amor falava mais alto, ela sentia que devia insistir... Procurou refúgio na Paz, e no coração da capela pediu que Nossa Senhora da Paz lhe desse Paz! Do fundo do seu peito, com toda honestidade que havia dentro de si, a jovem pediu que se aquele amor fosse sinônimo de escuridão, que a santa a libertasse dele. Mas que se ao contrário, fosse o amor verdadeiro, que então fosse protegido.
No dia seguinte o herói foi abatido pelos zombadores... Colocaram-o louco, em cólera ele começara a delirar... Falava coisas sem sentido e em tom ácido ia aos pouquinhos golpeando o coração da moça, que se desmanchava e não queria acreditar - ela queria que fosse ele o homem a quem ela definitivamente entregaria seu coração cultivado, longos anos de religare, sozinha.
No fim, em muito pouco tempo a corda que os conectava já estava tão gasta que rompeu... E depois uma chuva de maus pensamentos fechou a noite, uma tempestade de anti- amor, e então o herói se mostrou um anti-herói, ficou louco e amargo, e a moça então percebeu que se libertara de algo que só poderia ser bom, se fosse verdadeiro, honesto, com respeito, com cumplicidade...
Mas a Paz ainda demoraria um pouco, talvez nunca mais fosse a mesma, aquela ilusão era bonita demais pra ter sido somente uma visão.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O poema do herói de Strauss



A natureza é a mesma, e nossa biologia é burra, deveria ser mais certeira, mais adaptada aos dias de hoje.

Essa obra do Strauss (Till Eulenspiegel) retrata um herói, simbolizado por dois temas colocados nos primeiros compassos da obra:

 1- onde brinca com as mulheres e arma um enorme confusão – a ação dos
pratos na orquestra indica esta cena . 2- Fugindo, o herói em seguida, traveste-se de
padre (melodia das violas e fagotes) para pregar um sermão bem moralista.  Encontra
por fim, uma bela moça e se apaixona inutilmente. Sua próxima aventura, vê-se Till
diante de sérios pedagogos (passagem dos 4 fagotes e um clarinete baixo) tendo com
eles uma conversa pretensamente profunda.
No fim ele é condenado à morte e é enforcado. Mas há uma sugestão de que associa a execução do herói a uma inesperada ressurreição.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Não quero me perder por osmose no outro.

Joaninha é solteira. Faz o que lhe dá prazer, escolhe o que quer pro seu futuro e programa seu tempo para si mesma. Tem tempo pra qualquer coisa que ela queira e ama ter controle total de sua vida... Se sente livre, independente, dona do seu nariz, ideias, horas, humores, ações...
Joaninha vive essa liberdade até sentir-se tão cheia dela e de todas as infinitas oportunidades (de ser dona de si mesma) que começa a sentir falta do oposto... De ter algo ou alguém que lhe tire do conforto e da segurança de pertencer a si mesma.
O perigo rodeia Joaninha, que se sente ameaçada e atraída ao mesmo tempo... Seria ele uma armadilha para que todo o mundo de Joaninha acabe de uma vez só?
O Grilo não parava de cantar, ele tinha tantas habilidades e espertezas que a Joaninha começava a achar que aquele ser que ela ignorara anteriormente, poderia se tornar um par para os momentos em que Joaninha sentia vontade de compartilhar a vida... E eram muitos esses momentos; quando ela conquistava algo importante, quando cozinhava algo mágico, quando estava reflexiva, quando ia à livraria, quando caminhava na praia, quando estudava na biblioteca, quando saía para se divertir, ir ao cinema, pintar, desenhar, ouvir música clássica, uma ópera, um forró, um jazz, fazer compras e dormir em forma de polvo.
Joaninha começava a viver um dualismo, de um lado o prazer de ser dela mesma, de não se enganar com nenhum cantor de cantadas baratas, de não sofrer de amor e não se iludir e sentir dor. Por outro lado ela queria um dançarino para a valsa da vida, que acompanhe um passo pra lá e dois pra cá, que saiba conduzir os momentos certos com leveza ou com firmeza... Nisso o Grilo até se encaixou.
Viveram momentos mágico, lindos, fofos, maravilhosos e também tensos, de descobertas, de entendimento e cumplicidade... Eles se amaram antes da dança e se apaixonaram depois, e logo se amaram e se apaixonaram durante.
Tudo ia bem até que Dona Joana percebeu que se sentia estranha. Já não era ela mesma com seus pensamentos autônomos, suas vontades individuais e seu canto com sua dança... Ela estava toda misturada com o Grilo. Pensava como ela e ele, agia como ela e ele, sentia como ela e ele e não sabia mais quem ela era, o que queria e pra onde ia. Ah não! - Joaninha começava a ficar de asas em pé! Algo devia ser feito antes que ela perdesse suas bolinhas pretas e mudasse de cor - ela não gostava de verde!
Nesse momento uma velha amiga, a corujinha da janela se aproximou e disse:
 _ "Minha querida, você sendo tão sensível e estando tão envolvida com o grilo poeta deve tomar cuidado: precisa lembrar sempre que possui uma identidade única, és um ser especial, e não deves jamais se perder na força dessa energia Grilesca alheia.... Para tal vou lhe dar um conselho: quando sentires que estas mudando de cor - para um tom esverdeado, pare e reflita: procure lembrar da sua vida sem ele e de como fazia para se sentir feliz. Depois junte a imagem dele aos seus momentos felizes sozinha e procure fazer com que ele faça parte do seu mundo, e não só você do dele. Procure não deixar de fazer o que fazia antes, também se permita estar em compania só de si. Tenha tempo para amigas, para ouvir sua música, ir à livraria sozinha, e até viajar... Assim o grilo será sempre verde e você sempre chic, red com paetês pretos  e ambos nunca deixarão de se amar justamente por isso".

Joaninha percebeu o quão difícil, porém essencial era aquele ensinamento da Dona Coruja e a partir de então passou a cuidar para não se perder por osmose no outro. O Grilo ficou contente de ter uma companheira que além de formosa, talentosa, linda, cheirosa, prendada e inteligente (resumo da lista do livro de qualidades - risos)... Ainda era ela mesma - e não ele refletido.

Continuação feliz! (not the end, the end é muito limitado!)
JM.: todos os direitos reservados

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Etiqueta do amor

Uma espécie de guia de auto-ajuda sem a menor vergonha de se dizer como tal... 

Acumulamos experiências de vivências que ao longo da vida se transformam em diretrizes para que cheguemos a um tipo de conhecimento interno que ajuda nas escolhas, como por exemplo, passamos a detectar certos tipos de pessoas que não são de maneira alguma, compatíveis com nosso jeito.
Quando conseguimos não errar de novo, ganhamos tempo, e tempo é vida.

Com base em experiências pessoais, resolvi escrever um auto-guia para que eu me lembre de algumas formas de conceber um (bom) relacionamento. Uma espécie de guia de auto ajuda pessoal sem a menor vergonha de se dizer como tal...  Talvez possa servir também para quem se identificar, assim desejo que seja útil a reflexão, por isso compartilho.

1. Não se doe esperando algo em troca. Pessoas que vivem cotizando carinho, amor e atenção, são seres suscetíveis à frustração, estão sempre sentindo que dão demais e recebem de menos. Dê na medida em que for verdadeiro, não espere nada em troca, mas não sufoque o outro, caso perceba que seu momento é outro.

2. Seja razoável, se sentir que a relação está desequilibrada, se volte para o seu interno e reflita se não se trata de uma fase de carência, ou se a insegurança o faz agir de forma desproporcional. Seja mais racional para não se iludir no labirinto dos sentimentos e emoções, que nem sempre são em relação ao outro, e sim, uma necessidade de se sentir valorizado. Isso é falta de amor próprio.

3. Se ame em primeiro, segundo, terceiro... décimo lugar. Você é a pessoa mais interessante da terra para si mesmo. Se cuide, se valorize, se dê de presente coisas que o façam uma pessoa melhor e mais evoluída. Assim você não corre o risco de viver a vida do outro, que um dia pode se cansar de você (dele mesmo refletido na sua pessoa) e então só restará o outro em si mesmo; que triste. Possuímos uma individualidade própria porque somos unos, inteiros, íntegros... Não vale a pena se perder por osmose na individualidade alheia.

4. Se permita viver sem medos. O medo paralisa, atrai negatividades e plasma seus piores pesadelos. O medo nos faz ter a falsa ilusão de que o pior pode e vai acontecer. Anteponha ao medo a valentia e tenha coragem de fazer escolhas, mesmo correndo riscos. A vida fica muito mais emocionante e real e o tempo não passa em vão.

5. Tenha dignidade sempre. Não faça aquilo que não acredita só para agradar o outro. Saiba se colocar quando preciso for, saiba se retirar caso precise, para não se retirar tarde demais e de cabeça baixa.

6. Não aceite críticas destrutivas

7. Não permita que o mal humor alheio te deixe pra baixo, fuja, dê  um tempo, ajude no que for preciso mas não se identifique com o " inferno astral" ou "karma" dele.

8. Tente não levar ao outro assuntos que conduzam à uma órbita de polêmicas, irritabilidade, etc. A não ser que vocês queiram discutir filosoficamente assuntos como religião, política e futebol.

9. Não seja sentimentalista. É diferente de ser sensível. A mulher sensível é aquela que tem dentro de si um pêndulo da justiça e um radar da Verdade. Ela sente a energia ao redor, sente o estado do seu companheiro, sente a si mesma e com base nessas intuições e sensibilidades; ela conduz da melhor forma o convívio diário. É diferente da mulherzinha que vive chorando para chantagear e conseguir o que sua vaidade quer. Insuportável gente assim.

10. Se conheça o suficiente bem para saber que no dia em que está de tpm, seus hormônios à flor da pele ou se sentindo gorda, feia ou infeliz... Esse não é o melhor momento para discutir a relação. Estamos sujeitos à interferências mundanas de toda índole, absorvermos energias, podemos estar mais abertos para conceber pensamentos negativos e se não ficamos atentos, corremos o risco de tornar uma chuva em uma tempestade.

11. Entenda que o mecanismo mental e os sistemas sensíveis do homem e da mulher possuem diferenças. Por isso, não espere do outro que ele veja, sinta e reaja da mesma forma que você. Entenda   as diferenças e as use a seu favor, deixando o outro à vontade.

12. Nunca ache que possui  liberdade demais a ponto de falar qualquer coisa (íntima e pessoal) ou de fazer qualquer coisa (íntima) na frente do outro. Isso tira o encanto e pode ser muito deselegante.

13. Saiba o que você quer dêsde o início e tenha seus valores e escolhas sempre em paralelo ao que vive com o outro. Assim você pode escolher melhor se ele/ela é realmente quem você deseja compartilhar a vida e dar um passo à frente.

14. Não tente ser aquilo que você não é. Seja natural, se o outro não gostar, é porque não era pra ser.

Direitos reservados - JM.:

Continuo quando vier mais inspiração e outras vivências!!! hasta luego!

Rio, 05 de junho

Essa etiqueta do amor só serve mesmo quando o que está aqui também é interiorizado... Coisa rara quando se está apaixonado, a paixão é uma sensação que se relaciona com a cegueira, a surdez e a insensatez... Mas é ótimo se sentir apaixonado. Meu próximo post será sobre a importância de mantermos a nossa individualidade em qualquer relacionamento, na vida em geral.


domingo, 6 de maio de 2012

Quem que é esse tempo que vos fala?

Eis o tempo... Não medimos por quantidade nem só por qualidade... Ele chega e quando olhamos já foi. O tempo interno, o tempo alheio, o tempo ação, o tempo percepção... O tempo sentimento é o único que faz a gente entrar em contato com algo que não está nem aqui, nem ontem nem amanhã.

Rio, 05 de maio, 2012. Janara.:

segunda-feira, 30 de abril de 2012

E o amor hoje, é real? A opção família e filhos é tradição ou pode ser moderna?



Havia uma discussão na mesa. Eram mulheres cultas e havia um gay, culto também. Ah, também tinha um homem, desses sensíveis....
A discussão foi parar no sentido do amor, da família e por fim nas questões sobre ter ou não ter filhos e suas implicações nos dias de hoje. Eram todas "maduras", umas não tinham mais essa opção, escolher ou não, simplesmente escolheram em um passado próximo, e então falavam, justificavam e ilustravam os seus valores e como se sentiam hoje. Outras ainda poderiam escolher, mas seria já fazendo parte de um grupo diferenciado, a gravidez tardia. Acho que somente uma das moças estava na fase em que as mulheres mais engravidam. A fase  onde a sociedade ainda não sabe o que ela pretende, geralmente as novas balsacas são aquelas que ficam sob observação da família e dos próximos, parece que paira no ar uma expectativa: será que vai ou fica? Sobretudo se a moça for solteira e sem planos ou romances à vista...
O amor é algo esquisito demais. Na juventude ele é lírico, romântico, poesia que se escreve com letras em estilo barroco, com formas orgânicas. Ele tem cheiro de flor e incenso, ele brilha como uma vela na janela, reflete uma luz como a da lua na escuridão. O amor inocente é lindo, é puro e sacana, mas esse sacana é leve, diferente do amor maduro.
Depois de muitos amores puros, leves, sacanas, românticos e fantasiosos... A gente fica cansada, chega um momento em que se não nos prendemos ao que é considerado "sério", ficamos à margem, e daí surgem tantos outros interesses "fundamentais" que a dificuldade em sair dessa zona de conforto do "eu com eu", se torna um desafio. 
Me vi ali, diante de olhares do mundo, mulheres que preferiram ser elas por elas, sem filhos, sem romances formalizados... Elas casaram com suas profissões, acho que seus ideais eram os da liberdade absoluta, da independência de serem donas do próprio tempo e nariz.
Mas, não sei, minha razão achava aquilo tudo maravilhoso, eu mesma já pensei assim tantas vezes, ainda mais descobrindo tantos caminhos que sozinha ficam mais próximos, ainda mais assistindo a enunciação de um mundo cada vez mais e mais injusto, duro, árduo de se viver e conseguir um lugar ao sol... Essa era a voz objetiva, lógica... Mas sou um ser antagônico, e para não perder a crítica, me vi vendo, ou melhor, sentindo um outro lado que falava baixinho e tímido - mas me direcionava a atenção: dizia-me que não preciso ir na mesma direção, que poderia haver outras saídas, outras formas de ter o amor da família, a tradição de uma forma moderna, ou melhor dizendo, funcional aos tempos de hoje. "Funcional" é muito racional! Então, pensei no amor do homem e da mulher, acho que estou divagando... O amor existe hoje? De hoje até quando? O amor é circunstancial e muda com nossas mudanças, visões de mundo, valores? Ou é algo metafísico, espiritual? Existiria um amor capaz de fazer com que não desejemos sair de uma relação no meio dela e experimentar outros gostos, toques, momentos e mundos? Soa tão entediante esse amor eterno... Mas ao mesmo tempo ele é tão desejado! Tão buscado... Será por ser esse amor, um tipo imaginado, um mito, e por isso mesmo é que nós tentamos buscá-lo? Por ser algo inalcançável, platônico, virtual? Mais uma vez me acho pouco prática e me deparo com outra questão existencialista, e o que afinal é real? 
Janara Morenna, 17:55, Rio, 30 de abril de 2012.