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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Paradoxo gênero e controle

Estava lendo um texto da Janis More (1911) que ela dizia o seguinte:
"A melhor coisa que eu fiz na minha vida foi não ter me casado cedo. Tive tempo de me conhecer e saber exatamente o que quero. A individualidade não se constrói a dois, se destrói, se já não estiver solidificada". 
Na hora me recordei de alguns momentos em que eu me vi exatamente como ela citou, com a "individualidade destruída". Hoje, independente, forte, certa de mim, de quem sou, para onde vou e o que quero e não quero, fico estarrecida em recordar que até mesmo eu (tida pelos amigos homens como uma mulher que intimida, que deixa muitos inseguros, "inalcançável") pude chegar a extremos destemperados de humor e emoção.
Andando pela Gávea encontrei um amigo meu, um cara solitário, inteligente e se sentindo muito carente... Sentamos no Talho para tomar um café e colocar o papo em dia quando ele me disse que não aguenta mais essa "era líquida" como eu gosto de falar parafraseando o Bauman.
Aquele ser másculo com pós-doutorado estava frágil e carente... E quanto mais eu falava da minha independência emocional e em como mergulhei nos meus projetos, que não tinha tempo para nada além de trabalhar e, portanto, enrolava alguns "seguidores", meu amigo reagia muito mal: "as mulheres estão agindo como os homens! Estão dando 'perdido', ficam enrolando, nos fazem de bobo"... Soltei gargalhadas! Oras, eu estava apenas priorizando a minha vida enquanto aproveito para me conhecer mais. Estar a dois é bom, mas ter privacidade, liberdade e autonomia não é o máximo?
Sempre pensei que eu ia casar aos 30 (que era casar tarde na época em que eu “planejava a vida”, por volta dos 12 anos) e ia ter filhos com 32. Hoje tenho 32 e resolvi adiar esses planos: tenho tanta coisa importante para fazer antes! A lista é grande e eu sou persistente, não desisto, vou atrás, faço do impossível real, então será que quero casar e ter filhos? Se sim, qual o problema de ser aos 40? (ganho mais 8 anos!)
Essa confiança toda não existia quando em 2010 eu vivia choramingando pelos cantos, vivendo de mesadinha da vovó e sendo humilhada pelos que eu mais dependia emocionalmente. Gente que de tanto me esculachar no final me ajudou, graças aos seus ataques (morais) hoje conquistei o impensável (aquele impossível que eu disse antes).
Contei minha história para o meu amigo que se queixava de só ter conhecido “mulheres loucas” que ficavam obsessivas, perseguiam, escandalizavam e até agrediam fisicamente ele. Contei algumas loucuras que fiz onde coloquei minha dignidade no lixo (perseguição noturna na Lapa, cair de escada alcoolizada por conta de briga, me humilhar implorando atenção, ir ao fundo do poço). Meu amigo não acreditou que eu poderia ter feito aquilo, a imagem que ele tem de mim jamais comportaria aquela pessoa ensandecida e desequilibrada.
Este para mim é o ponto crucial, a gente atrai o que emite, se ele só atrai esse padrão, o que será que ele está emitindo? Ou melhor, será que ele é um gatilho que dispara esses desajustes psíquicos (ou acredito até espirituais?). Após longa conversa sobre o porquê de atrair tal padrão ele me confessou que de fato as mulheres que ele teve diziam que “saiam de si”, uma delas (espírita) disse ter entendido que surgia uma ira/raiva que ela sabia que não era dela... Por fim concluiu que achava que ele mesmo carregava algo que devia influenciar as mulheres.
Eu acredito na versão dele e sobretudo na honestidade e coragem de fazer uma analise assim, que compromete ele próprio. Contudo, acho que as mulheres que ele escolhe são sempre as mais propensas e vulneráveis a esse tipo de “absorção”, seja ela subjetiva ou espiritual.
Eu precisava escrever sobre isso porque vejo que o auto conhecimento (ou a experiência mesmo), o domínio de si mesmo e a consciência viva no final nos blindam de coisas do gênero, de manifestações ou distorções da nossa personalidade. Os conflitos psicológicos gerados por uniões doentias e parasitas criam dependência (não existe sado sem masoquista) e os dramas de controle (James Redfield) acontecem nesses contextos.
Então quando olho para trás e vejo que tive a coragem de me  jogar em relacionamentos desequilibrados sinto um misto de alívio - por isso ser algo tão distante de quem eu sou hoje, e de perplexidade - por simplesmente não conseguir entender como pude ter as reações que tive, irreconhecíveis até para mim! Tenho certeza que estive vulnerável energeticamente (espiritualmente também, claro) para que a falta de auto controle desse lugar a uma força destrutiva como a que quase causou danos irreversíveis como quando caí da escada.

Deve ser por isso que sou “inalcançável” como dizem os ditos "sinceros", não era bem a imagem que eu queria passar, mas devo parecer assim por me blindar, me proteger, antever, analisar bem e ter um certo “zelo distante” para conseguir então detectar se vale a pena incluir na minha vida já tão cheia de amor, sucesso, momentos lindos etc, alguém que eu não sei se veio para somar. E aí os homens acham que isso é “dar perdido”, "fazer de bobo", "ignorar" e paradoxalmente caem de amores e se apaixonam como as mulheres vulneráveis e frágeis fazem (caçador também vira caça baby!).
Dramas para cá e controle para lá, no fundo o que todos querem é não precisar controlar, é deixar fluir, é olhar e admirar como é, sem querer mudar, e isso, querido Bauman, querido Lipovetsky, não está dentro da liquidez das relações atuais; é eterno.